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sábado, 27 de abril de 2024

Justiça nega liberdade provisória a golpista de MS

2007-10-29 16:29:00

A Justiça negou pedido de liberdade provisória solicitado pela defesa de Kelly Samara Carvalho dos Santos, de 19 anos. Ela foi presa em flagrante em 22 de agosto sob suspeita de praticar golpes na região dos Jardins, Zona Oeste de São Paulo. "Acolho a manifestação do Ministério Público para indeferir o pedido de liberdade provisória formulado, observando-se que, no decorrer da instrução criminal, se o panorama vier a ser outro, a medida poderá ser revista", despachou o juiz Luiz Fernando Migliori Prestes, no último dia 25.

Em 6 de setembro, o desembargador João Morenghi negou o pedido de libertação imediata de Kelly. O advogado dela, Francisco Emerson Mouzinho de Lima, alegou no pedido de liberdade provisória que houve constrangimento ilegal, mas não conseguiu convencer o Tribunal de Justiça. Kelly, que foi indiciada por estelionato, deverá participar da primeira audiência do processo no próximo dia 6 de novembro.

Jovem, bonita e bem vestida, a garota se passava por milionária para roubar. Um rosto e muitos disfarces: estudante de direito, empresária, fazendeira, até filha do presidente do Paraguai. “Ela me recebeu de pé, com o maior cinismo. Subestimou minha inteligência. Eu fui inocente perto da sua maldade”, desabafa a aposentada Amena Campos de Souza, de 84 anos, ao ficar frente a frente com a jovem que roubou seu talão de cheques.

Kelly prejudicou mais gente durante os seis meses em que atuou no região dos bairros mais chiques e ricos do Brasil: os Jardins, na Zona Oeste de São Paulo. Mas esta semana todos os seus disfarces caíram de uma vez. A jovem foi até o 15º Distrito Policial, no Itaim Bibi, acusar sua própria advogada de roubo. Era mentira. A advogada se disse surpresa. “Não esperava este tipo de comportamento. Não é comum entre advogado e cliente”, disse Yara Alves Brasil.

A delegada de plantão desconfiou da história e começou a investigar a menina do Interior. Era o começo do fim da vida cheia de glamour e golpes de Kelly. “A gente vai puxando e parece que a linha não acaba mais”, disse a delegada Aline Martins Gonçalves. Mais de 20 vítimas já apareceram, só em São Paulo. Mas a polícia afirma que ainda é impossível dizer quantas pessoas foram enganadas ou qual a quantia que Kelly roubou. “É uma menina de 19 anos, bonita, por isso conseguia chegar fácil nos homens”, diz a delegada Aline.

E não só nos homens. Com Amena, ela usou uma tática diferente. “Eu, atravessando a rua, tropecei a dois quarteirões daqui e apareceu aquela moça, correndo, me ajudar a levantar. Eu agradeci muito e ela me trouxe até em casa. Depois de uns dias ela voltou, entrou, sentou”, conta. Boa de conversa, Kelly descobriu alguns segredos, como o talão de cheques, que ficava guardado atrás de um quadro na casa da aposentada.

Segundo Amena, Kelly furtou o talão enquanto a idosa estava no banheiro. “Ela sabia que estava aqui (dentro do quadro) e eu não vi, nem percebi”. Secretária bilíngüe aposentada, Amena vive sozinha e pensou que tinha passado por tudo na vida. “Aprendi a não confiar mais em ninguém”. Kelly sabia como cativar suas vítimas. O dono de uma galeria de arte, que prefere não aparecer, também caiu na conversa.

Durante um namoro-relâmpago com Kelly, teve vários cheques roubados, além de uma gravura, agora recuperada pela polícia, do pintor catalão Joan Miró, avaliada em R$ 36 mil. Com pouca idade, mas muita experiência nos golpes, Kelly começou cedo, aos 12 anos, em Amambai, em Mato Grosso do Sul, estado onde nasceu. Segundo Maria Rosa Flores, ex-diretora de uma escola onde Kelly estudou, a então estudante não conhecia regras. "Ela tentava ludibriar todo mundo".

Em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia que faz fronteira com Ponta Porá (MS), mora a mãe de Kelly. Ela não estava em casa. Da família, a única que aceitou falar foi uma tia, Leodonir Carvalho. "Ela desobedecia professores, sempre furtava alguma coisa, sempre dava muito problema desde pequena", diz.

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