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quinta-feira, 25 de abril de 2024

“Um Grito Sem Cor” – por Claudio Agostini

2007-01-20 15:35:00

"Um certo dia (e dizem que foi de sã consciência), alguém preconizou aos alcoviteiros de uma sociedade qualquer, que existiria um profissional chamado de "produtor rural" , que teria a posse de uma propriedade, pagando mundos e fundos PELO DIREITO A ELA, mas que esse mesmo produtor, não teria o direito de usar 20%, 50% e até 80% da mesma, dependendo da sua região. Só que os impostos não deixariam de incidir sobre os 20, 50 e 80%; também fora sentenciado, que ele não determinaria o preço do seu trabalho, pois alguém faria isso por ele.


Toda essa reserva intocável, diante da lei e das normas, serviria para dar mais qualidade de vida às pessoas, pulmão do sistema, manutenção da biodiversidade, mas que tudo correria por conta dele. Como se isso não bastasse, fizeram-no ciente, de que o mesmo não teria tranqüilidade, segurança, um real direito de propriedade, mas que ele deveria marchar mesmo assim, como um abnegado, cego, surdo e mudo aos seus próprios problemas e desilusões.


Como se toda essa imposta sina ainda não bastasse, fizeram-no de tirano, como se carregasse uma mácula, uma ferida pútrida. Ainda assim, certos homens da lei, dessa mesma famigerada sociedade, mesmo que "sem dar nomes aos bois", acusam-no de quando em quando, de "contratador de jagunços", "aniquilador de índios", como reles elementos de segunda categoria, desclassificados, sem índole, personalidade, humanidade. Será que esse pobre desgraçado, um dia chamado de -produtor rural-, tem que carregar este estigma, por ser ele o responsável pela produção da comida para a humanidade?


Eu diria que Themis, Deusa da justiça, chora no colo de sua mãe, Gaia, olhando para Zeus, seu pai, desculpando-se em seu olhar triste e desiludido, pelo parecer e pelo procedimento de algum dos representantes da lei do nosso país.
Existem certas forças criadas no acaso, no bojo da incompetência de outros, no voto de protesto, fruto da rebeldia, do fisiologismo e corporativismo de certos órgãos governamentais, criados à revelia das nossas vocações, da nossa estrutura fundiária, e na antítese da própria filosofia de quem governa com aquilo que apregoa, ao invés de serem forjados pela consciência coletiva, com quilate correspondente à qualidade, racionalidade, justiça, segurança e decência.


Vivemos um estado, aonde cresceram sobremaneira esses problemas sociais, os desmandos, o descaso, os acampamentos demagógicos de fim de semana, dos chamados "sem-terras", invasões indígenas de toda ordem, promovidas e organizadas, não por índios, mas por certos dirigentes brancos, mal intencionados, pertencentes a um certo quadro de um famigerado órgão de fisiologismo e corporativismo.


Eu pergunto aos senhores, com toda a paz de consciência que me é peculiar nesse momento: Existe alguma diferença básica, entre ossos brancos e ossos amarelos? Cemitérios indígenas seriam invioláveis e de brancos, não? Isso é ou não é discriminação, segregação, racismo? Isso não é o incitamento ao divisionismo social, um estímulo à não interação entre brancos e índios?


Onde estão as políticas públicas, verdadeiras, que possam tirar o nosso índio da bebida, da mendigagem e da falta de consciência de uma certa escassez dos nossos recursos naturais?


Eu pergunto onde estão as políticas públicas condizentes e extremamente necessárias, no sentido de propiciar ao nosso povo indígena, o direito claro à evolução, com políticas sociais condizentes, controle de natalidade, educação em todos os níveis, políticas que lhes permitam o verdadeiro acesso aos bens de consumo e a sua interação completa com a sociedade branca?


Nós, enquanto produtores rurais, acreditamos que sejam assuntos da maior relevância, e que ninguém tem direito de colocar embaixo do tapete. Os políticos se negam a resolvê-los, fazendo um jogo de cena, pois o índio, apesar de tutelado, vota. O assunto parece um tabu, daqueles que nunca chegamos ao âmago, ao ponto crucial da questão, para resolvermos de forma madura, patriótica e civilizadamente, tantos problemas semeados por aí, e daí vemos acontecimentos funestos tomarem corpo, sejam por mortes de índios ou de brancos, envolvidos em todo tipo de conflitos, acontecimentos que lamentamos profundamente, enquanto pensamento de uma sociedade organizada, responsável e humana.


Creio que vivemos no cotidiano, por parte do estado, uma empáfia, um sentido de complexo de onipotência por um lado, e de uma total impotência d´outro; Uma dicotomia entre a razão e o populismo, daí, por conseguinte, observamos um derrame de leis vazias, unilaterais, conflitantes, que, se fossem ouvidos de fato, os cidadãos, poderíamos provar as aberrações, distorções e aquilo que ora rezamos aqui, na forma deste altruísta desabafo.


Quando o mundo inteiro é uníssono quanto ao fato de repudiar-se a discriminação, o racismo, nós, brasileiros tolos, criamos leis garantindo um contingente de vagas em Universidades, para negros e índios. É, sem sombra de dúvidas, em qualquer instância ou prisma que possa ser analisado, a maior discriminação já realizada neste país ou fora dele, e isto em caráter oficial até que se "revoguem as disposições em contrário", pois é admitir sobremaneira, oficializar através de ato legislativo, de que o índio e o negro são menos inteligentes, menos capazes do branco, e coloca o branco como discriminador, carrasco e mentor da sentença. Eu não sei, não posso saber nem entender, como em sã consciência, homens aos quais atribuímos, a faculdade de criarem as nossas leis, que em última hipótese deveria ser uma síntese do pensamento popular, tomam certas iniciativas como estas, e não entendo também, como uma lei destas, discriminatória e sem sentido ético, sem qualquer resquício de igualdade, é votada e aprovada!


Outra vez o governo, joga a sujeira debaixo do tapete. O problema real é a falta de oportunidades para o índio e o negro, nas escolas fundamentais e de segundo grau de nosso país, pois a etnia índia e negra, estão concentradas, em sua grande maioria, nas regiões mais pobres do nosso país.


Vivemos na contramão daquilo que foi constituído, pois não temos sequer o direito à propriedade, algo que está escrito na Carta Magna, coisas assim como "todo o cidadão é igual perante a lei", uma verdade também questionável, quando não absolutamente mentirosa. Quedamos-nos confortados, com um montanha de King k´ONGS, vindo e indo a todos os lugares possíveis e imagináveis, mesmo naqueles que pensamos impenetráveis, nos tecendo comentários animadores e estatísticas satisfatórias ou avassaladoras, e como epílogo, convivemos com programas corruptos que não fazem mais do que algumas entidades, como vemos na televisão, simplesmente desviarem impostos e de um governo que insiste em querer não ver e de gastar saliva e dinheiro na televisão, para ressaltar o que "foi feito" !!!


"Estou vendo um governo, caminhando desalinhado da sociedade que representa, da sua gente. Vejo, já quase desesperado, sem vislumbrar horizontes palpáveis, inversões enormes ocorrerem à olhos vistos, desenfreadas, subjugadas a teorias confabuladas em outros "ismos" que não o nosso, longe das nossas divisas, da nossa cultura, das nossas raízes. "Vejo a Águia predando os ovos do Papagaio e ao mesmo tempo, promovendo junto à passarada, moções de repúdio a este, pela inanição e baixa representatividade de sua família."


"Estou a vislumbrar com tristeza, a exposição de maçãs podres em caixas de veludo, nas prateleiras da irracionalidade, enquanto as maçãs viçosas, lindas e exóticas, são abandonadas à própria sorte ou lançadas como rebotalho, às sarjetas."

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