2009-12-18 20:21:00
Em seu discurso na plenária final da conferência das Nações Unidas sobre o clima, diante de um impasse que ameaça um acordo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta sexta-feira que o Brasil está disposto a participar de financiamentos para países em desenvolvimento.
Falando durante 20 minutos, antes do discurso do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, Lula disse estar "um pouco frustrado" com o aparente fracasso das negociações de alto nível na noite de quinta-feira.
"Ontem, estava na reunião e me lembrava dos meus tempos de dirigente sindical, quando negociava com empresários", comparou. "Mesmo as metas, que deveriam ser uma coisa mais simples, tem muita gente querendo barganhar."
O presidente brasileiro deixou claro que os principais obstáculos continuam sendo a resistência da China a aceitar o que os Estados Unidos chamam de "transparência", ou seja, a adoção de resultados "mensuráveis, reportáveis e verificáveis" – MRV, no jargão dos negociadores – e o financiamento aos países mais pobres.
Sobre o primeiro ponto, Lula defendeu o direito dos países industrializados à cobrança de ações passíveis de verificação externa, mas alertou para os riscos de invasão da soberania.
"Os países que derem o dinheiro têm direito de exigir transparência até cumprimento de metas. Mas é verdade que precisamos tomar muito cuidado com a intrusão dos países desenvolvidos em países em desenvolvimento."
O presidente acrescentou, entretanto, que "cada país tem que ter a capacidade de se autofiscalizar".
Já o financiamento foi considerado fundamental pelo presidente, por sua importância para o desenvolvimento dos países pobres. Lula destacou, no entanto, que "dinheiro não é tudo". Para o líder brasileiro, é preciso que os países desenvolvidos entendam, porém , que "não estão dando esmola".
Contraste
O discurso seguinte ao de Lula foi o de Obama, e o contraste nas mensagens deu a dimensão do impasse que se instalou nas negociações sobre o clima.
"Eu não sei como podemos ter um acordo internacional, se não estamos dividindo as informações e sabendo se estamos cumprindo as metas", disse o americano.
O líder da maior economia do planeta, e segundo país que mais emite gases que causam o efeito estufa no planeta, disse que a fórmula para um acordo é clara:
"Temos que ter um mecanismo para verificar se estamos nos atendo aos nossos compromissos e trocar essa informação de forma transparente", disse.
"Mitigação, transparência e financiamento. É uma fórmula clara, que abarca o princípio das responsabilidades comuns, mas diferenciadas." O princípio também foi citado por Lula no seu discurso, ao defender a manutenção do Protocolo de Kyoto.
"Todos nós sabemos que é preciso, para manter o compromisso das metas e financiamentos, em qualquer documento aprovado aqui, manter os princípios de Kyoto e da Convenção-Quadro (tratado que deu início às discussões sobre mudança climática)."
Mesmo dizendo-se frustrado e revelando pouca esperança de chegar a um acordo, Lula disse acreditar em "um milagre".
"Mas para que o milagre aconteça, precisamos levar em conta que tivemos dois grupos trabalhando em documentos que nós não podemos esquecer", disse, em referência às propostas de continuação de Kyoto e de um novo acordo.
Revelando todas as suas dúvidas, Lula disse ainda que adoraria sair de Copenhague com um "documento perfeito".
Mas lembrou que até o momento isso não aconteceu. "Não sei se algum anjo ou algum sábio descerá neste plenário e irá colocar na nossa cabeça a inteligência que nos faltou até agora. Eu não sei", concluiu.