2009-07-10 12:51:00
A demissão de pelo menos 200 trabalhadores que atuavam no grupo JBS-Friboi da unidade de abate em Mato Grosso do Sul comunicado nesta semana e a expansão da empresa frigorífica em Mato Grosso mudam para dois a zero o placar da disputa comercial envolvendo os dois Estados.
Mês passado, os mato-grossenses, num confronto direto com os sul-mato-grossenses, levaram a melhor na escolha da subsede da Copa de 2014.
O enfrentamento dos dois estados e as supostas vantagens conquistadas pelo vizinho estado, embora admitido, são enxergados com reservas por representantes pecuários de Mato Grosso do Sul.
De qualquer maneira, o governo mato-grossense comemorou o anúncio da JBS-Friboi que arrendou nesta semana cinco frigoríficos por lá e já avisou que a partir de agora a companhia vai abater 5.150 animais por dia, produção três vezes maior do que a empresa abate hoje aqui em Mato Grosso do Sul.
Ao jornal Folha do Estado, de Cuiabá, o presidente da JBS/Friboi, Joesley Mendonça, comentou que Mato Grosso mantém um cenário favorável para ampliação das atividades ligadas à carne.
“Nós avaliamos a capacidade produtiva do Estado, as condições de escoamento, tudo o que era importante para garantir a produção. Entendemos que a política fiscal em Mato Grosso é avançada, a legislação é transparente, e isto é fundamental para planejamentos em longo prazo”, disse ele.
Ação política
A imprensa de lá noticiou que o projeto de expansão do frigorífico contou com um empurrão político que envolvera o vice-governador do Estado, Silval Barbosa, do PMDB e do secretário de Fazenda, Eder Moraes.
“É este o desenvolvimento que queremos no Estado. São empresas que agregam valor a nossa produção. Em vez de enviarmos o gado vivo para outras unidades da federação, podemos processá-lo aqui em Mato Grosso, gerando emprego, renda e oportunidades, com uma concorrência leal e honesta”, afirmou a Folha do Estado, Eder Moraes, o secretário de fazenda de MT.
Para Moraes, “Mato Grosso está dando um exemplo ao país de como superar a crise econômica: o Fisco Estadual possui regras claras, permitindo um planejamento e boa ambiência de negócios”.
Antes de atrair a expansão do frigorífico, a Sefaz de MT reduziu a alíquota do ICMS (Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) incidente sobre o gado em pé. Este tributo caiu de 7% para 3,5%. A JBS acha que com os frigoríficos ativos, ao menos 5 mil empregos serão gerados em MT.
Lucro momentâneo
O presidente da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Ademar da Silva Júnior, disse que a JBS/Friboi resolveu expandir os negócios em MT por duas razões: pela oferta da carne e também pelo preço, que é menor do que o praticado por aqui.
Ele disse que o ganho comercial de Mato Grosso é “momentâneo”. Isto porque, segundo Silva Júnior, há uma “pressão internacional” contra o comércio da carne antiecológica. E, para ele, Mato Grosso do Sul levaria vantagem porque aqui os animais são tratados de acordo com as normas aceitas pelos países compradores.
Já o presidente do Sindicato Rural de Mato Grosso do Sul, José Lemos Monteiro, achou “natural” a expansão da JBS em MT por entender que lá “há mais gado confinado”.
No entanto, ele acredita que o setor pecuário em MS precisa de mais incentivos e que os governos estadual e federal reduzam os impostos.
“O produtor precisa lucrar, as indústrias precisam lucrar. Vivemos num regime capitalista e neste regime, todos precisam lucrar”, disse Monteiro, também da comissão da pecuária de corte da Famasul.
Cálculos dele indicam que hoje a arroba é negociada em MS em torno de R$ 74,00 a R$ 75,00. Já o custo por arroba, segundo Monteiro, é de R$ 79,00. Pela soma, a cada animal negociado aqui, de 16 arrobas, por exemplo, o produtor sairia perdendo em torno de R$ 80,00. “A situação requer uma análise, precisamos de ao menos 5% de lucro sobre o custo da produção”, disse.