2008-12-03 23:33:00
O presidente Fernando Lugo pôs em dúvida a legitimidade da dívida externa do Paraguai, principalmente a contraída com o Brasil na construção da hidrelétrica Itaipu, e anunciou sua intenção de estudá-la "exaustivamente" e, se for o caso, de impugná-la.
"Muitas das nossas dívidas já foram pagas", declarou Lugo a jornalistas de seu país, anunciando que ordenou a criação de uma equipe econômica para estudar o tema com seriedade.
Sem afirmar que seguirá os passos de seu colega equatoriano, Rafael Correa, que anunciou que não pagará a dívida contraída por seu país com o BNDES, Lugo insistiu em que a dívida dos países latino-americanos tem de ser estudada com cuidado.
"A questão da dúvida internacional dos países está ocupando cada vez mais espaço na agenda internacional. O Equador é um desses países, e nós também. Mesmo que a dívida do Paraguai não seja tão alta (US$ 2 bilhões de dólares), acreditamos que muitas das nossas dívidas já foram pagas", declarou Lugo.
O ex-bispo Fernando Lugo, de 56, acabou com a hegemonia de 61 anos do Partido Colorado no Paraguai, 35 dos quais passados sob a ditadura de Alfredo Stroessner (1954-1989). Ao longo da campanha presidencial, Lugo defendeu um "preço justo, de mercado, para a energia de Itaipu".
Durante as ditaduras de Stroessner, no Paraguai, e de Emilio Garrastazu Médici, no Brasil, os dois países construíram sobre o rio Paraná a gigantesca represa hidrelétrica de Itaipu, de condomínio mútuo. O custo inicial da obra havia sido orçado em 3,5 bilhões de dólares, para uma capacidade de produção de 90 milhões de megawatts por hora (MWh). No entanto, a hidrelétrica deve custar ao todo 61 bilhões de dólares. O fim do pagamento está previsto para 2023.
Itaipu pagou à Eletrobrás e ao governo brasileiro 31 bilhões de dólares até 2006. "O Brasil subjugou o Paraguai pela força há 150 anos com a guerra da Tríplice Aliança e continuou tentando dominar esse país, corrompendo seus governantes. Para conseguir a cessão da energia paraguaia a um preço irrisório, os sucessivos governos brasileiros inundaram de dinheiro os dirigentes paraguaios, que viviam como reis, graças a Itaipu. Agora, com a chegada de Lugo no poder, essa farra acabou", afirmou o analista paraguaio Mario Elizeche.
O presidente do Paraguai declarou ainda que muitas das dívidas contraídas por seu país "não chegaram aos verdadeiros destinatários". "Se elas não chegaram a seus destinatários, elas não são legítimas", sentenciou.