2008-10-17 14:16:00
Responsável pela alta dos juros ao consumidor e pela escassez do crédito, a crise já chegou às lojas de material de construção, cujas vendas caíram de 15% a 20% em setembro, segundo Hiroshi Shimuta, diretor da Anamaco (Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção).
Já na esteira das condições menos favoráveis de financiamento, as vendas do setor haviam recuado 3,7% em agosto, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Outros ramos dependentes de financiamento, como veículos e eletrodomésticos, já sentiram a freada e tendem a sofrer mais nos meses seguintes, de acordo com especialistas.
O crédito à compra de material de construção, diz Shimuta, ficou 30% mais caro desde o recrudescimento da crise, e as financeiras se tornaram "mais exigentes e seletivas" na concessão de financiamentos. "Isso afeta muito o nosso setor. Cerca de 40% das vendas dependem de crédito."
Em outubro, as vendas despencaram até 30% no começo do mês com o agravamento da crise, mas já começaram a reagir, segundo ele. "Para reformar a casa ou comprar um imóvel, o consumidor tem de estar confiante em relação ao futuro, sem medo de perder o emprego. A crise certamente afetou as expectativas."
O ambiente mais adverso, diz, levou a Anamaco a revisar a previsão de crescimento neste ano –de 12% para 9%, resultado assegurado pela forte expansão do primeiro semestre.
Luiz Goés, da consultoria de varejo Gouvêa de Souza e M&D, afirma que a concessão de crédito já estava mais "rigorosa" e com juros maiores antes do recrudescimento da crise. Tal cenário, diz, afetou as vendas de veículos, eletrodomésticos e material de construção já em agosto.
No caso de veículos, houve queda de 3,7% ante julho, segundo o IBGE. Em materiais de construção, a retração foi de 1,6%. O setor de eletrodomésticos e móveis viu as vendas se desacelerarem -de alta de 1,3% em julho para 1% em agosto.
"Esses setores sensíveis ao crédito vão sofrer. O prazo ficou mais curto e a prestação aumentou. Como o que o consumidor olha é justamente se a prestação cabe no bolso, o impacto será sentido", diz Góes.
João Carlos Gomes, do núcleo econômico da Fecomércio-RJ, concorda: "Há um cenário de desaceleração, que vai se intensificar".
Em agosto, as vendas de veículos se contraíram (-15,3%), o que não se repetiu em setembro (alta de 10%), segundo a Fenabrave (Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores).
Diretor da entidade, Sérgio Reze afirma que os juros nos financiamentos subiram de 26% para 35% ao ano, mas isso não impedirá o setor de registrar um crescimento próximo a 20% neste ano. "Não vamos repetir os 28,7% de 2008, mas será um bom resultado", diz.