2015-03-13 14:27:00
Cerca de 50 produtores rurais que arrendam terras para a Odebrecht Agroindustrial, empresa do grupo Odebrecht, que toca a usina Santa Luzia, geradora de etanol, açúcar e energia em Nova Alvorada do Sul, cidade distante 116 km de Campo Grande, vivem momentos de aflição com o atraso no pagamento dos aluguéis das áreas. Na extensão locada, são cultivados pelo menos 80 mil hectares de cana-de-açúcar.
A organização Odebrecht, gigante brasileira da construção civil, é uma das dez empreiteiras investigadas pela Lava Jato, operação da Polícia Federal que descortinou um dos mais escandalosos esquemas de corrupção do País implicando a Petrobras, maior empresa brasileira, e perto de 50 políticos, entre eles senadores, deputados federais e até governadores. A construtora é acusada de pagar propina em troca de serviços conquistados por meio de licitações supostamente fraudadas.
Cálculos presumidos do Sindicato Rural de Nova Alvorada indicam que os 50 produtores rurais, entre os quais pequenos e médios, arrendem em torno de 80 mil hectares à usina Santa Luzia, da organização Odebrecht. “Pelo que apuramos até agora, o atraso no pagamento pela parceria agrícola [os donos das propriedades não aceitam o termo arrendatários e, sim, parceria], foi anunciado por telefone. Hoje [ontem], vamos nos reunir com os parceiros e redigirmos uma carta que enviaremos à empresa pedindo detalhes sobre o episódio. Até agora, o que soubemos foi por telefone, nada oficial, não sabemos até quando será mantido o atraso”, disse a presidente do sindicato dos produtores, Telma Menezes. A usina Santa Luzia entrou em operação em Nova Alvorada do Sul em 2008 e “nunca” tinha atrasado parcelas aos arrendatários, segundo a sindicalista.
Outro dado desconhecido do sindicato tem a ver com o valor pago pela Odebrecht aos produtores. “Creio que uns R$ 5 milhões por mês [juntando todos os parceiros], varia muito, tem gente que arrenda muitos outros poucos hectares para a usina”, disse um dos arrendatários, que não autorizou a publicação do nome.
Outro lado
A assessoria de imprensa da Odebrecht, por meio de nota, informou que “analisa os contratos vigentes”. Leia a íntegra do comunicado.
“Desde 2008, o setor sucroenergético enfrenta desafios cada vez maiores por inúmeras razões, que passam por fatores climáticos e ausência de políticas públicas de longo prazo para a matriz energética brasileira. Mesmo com todo este cenário, a empresa segue com a visão estratégica de que o etanol, combustível brasileiro de fonte renovável, é um negócio de grande potencial para o País.
Em uma safra particularmente desafiadora, a Odebrecht Agroindustrial tem criado oportunidades para aumentar a competitividade do negócio bem como otimizar a sua necessidade de capital de giro. Em relação aos contratos firmados com parceiros agrícolas, peças fundamentais para a nossa operação, a empresa está analisando todos os contratos vigentes a fim de negociar possíveis prazos de pagamento, sempre em alinhamento e consenso entre as partes, mantendo a relação de confiança e parceria de longo prazo já estabelecida.
Como sempre foi feito desde a fundação da empresa em 2007, todos os contratos serão cumpridos em sua integralidade”.