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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Cordilheira dos Andes cultiva mais de 4,2 mil tipos de batatas

2015-02-08 21:12:00

Solanum tuberosum – esse é o nome científico da batata.  Comida de pobre, como mostrou o pintor holandês Van Gogh no famoso quadro "Os Comedores de Batata".  No Brasil, ela inspirou um gênio da literatura, também: Machado de Assis. “Ao vencedor, as batatas!”. O Globo Rural cruzou a América do Sul para visitar o Peru, país de origem da batata.

Em um bairro da periferia de Lima fica o CIP – Centro Internacional de la Papa (batata, em espanhol). Mantido por ONGs, ONU e 58 países (o Brasil inclusive), o CIP guarda um tesouro para a humanidade: o Banco de Germoplasma, um banco de sementes conservadas a 20 graus abaixo de zero. Tem a cópia de todas as batatas conhecidas no mundo.

Ao longo da Cordilheira dos Andes, da Venezuela ao Chile, são plantados e comidos 4.235 tipos de batatas, com tonalidades que variam do claro ao negro. Os formatos são os mais variados e curiosos possíveis. Tem batata que lembra mandioca, pêra, caju, pata de tigre.

O agrônomo René Gomez, que há mais de 30 anos faz pesquisas com batata, é o curador do Banco de Germoplasma do CIP. Ele explica que as variedades nativas, em maioria, guardam nomes ainda das línguas que eram faladas nos Andes, antes da chegada dos espanhóis, especialmente, o quíchua, que o idioma oficial dos incas.

René já experimentou todos os tipos de batatas. “Há duas que se destacam. Tem a lúcuma, que se parece com uma fruta andina do mesmo nome; e a chillis runtush, que é a minha preferida. Ela é bem amarela, riquíssima em caroteno, fonte de vitamina A. Lembra gema de ovo”, diz.

A equipe do Globo Rural visitou uma associação de paperos, conhecida como Yerba Buena Chica, a 3,5 mil metros de altitude. A engenheira agrônoma Celfia Ramirez Obregon é presidente da Associação para o Desenvolvimento Sustentável do Peru e trabalha com o resgate de batatas nativas. “Já conseguimos recuperar 64 variedades, o que não é muito considerando que só o Peru tem 3,5 mil variedades. Mas já é um grande passo. Pois aquilo que mal dava para a subsistência agora está trazendo renda para essas comunidades isoladas.”

O presidente da associação dos paperos diz que quando vendiam a batata branca era por um preço irrisório, coisa de 50 centavos o quilo. Agora, com as coloridas, alcançam cerca de dois reais o quilo. “Além disso, agregamos valor: fizemos uma parceria com a ONG e estamos vendendo nossa batata frita colorida no supermercado”, conta Izidro Soto.

A preparação dos terrenos para o plantio de batata nesses pisos mais altos da Cordilheira dos Andes ainda é feita com uma junta de boi e um equipamento ancestral. De antes da chegada dos colonizadores, de antes dos incas. De três, quatro mil anos atrás. O arado é de madeira. Recentemente, houve uma adaptação – uma ponta de ferro. Mas, a base da estrutura se perde no tempo.

A agrônoma Celfia mostra que o solo fértil das montanhas tem quase um metro de profundidade. Ela explica que não é vulcânico. “É sedimentação de milhares de anos. Riquíssimo em matéria orgânica. A única coisa que requer é uma calagem. Não se usa fertilizantes, muito menos agrotóxicos. Cada região tem um solo característico que vai concentrar sabor e cor nas batatas.”

Na cultura andina, a crença é forte na fertilidade e fecundidade feminina. Por isso, o ato de semear é exclusivo da mulher. É assim em Yerba Buena Chica e em todas as outras regiões Andes. Preferencialmente, uma mãe que carrega o manto de tubérculos brotados na barriga. O gesto é o de quem tira uma semente do ventre e pede para a terra procriar.

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