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quinta-feira, 28 de março de 2024

Brasileiros nos EUA se mobiliza para participar do censo

2009-08-16 11:07:00

A intenção é fazer com que os brasileiros sejam contados para que o grupo possa se fortalecer politicamente, passando a ser visto como relevante para a sociedade norte-americana, explicou, em entrevista ao G1, o brasileiro Álvaro Lima, diretor de pesquisas e assessor para desenvolvimento econômico da Prefeitura de Boston, cidade que reúne a maior comunidade brasileira nos EUA.

O número de brasileiros vivendo nos Estados Unidos passa de 1 milhão, mas nos dados oficiais do governo daquele país constam apenas aproximadamente um quarto deles, o que fragiliza o grupo politicamente e faz com que as cidades em que vivem não estejam financeiramente estruturadas para oferecer todos os serviços a eles.

O contraste se dá porque as políticas públicas do governo norte-americano são baseadas em dados do censo, e muitos imigrantes brasileiros não responderam à última pesquisa, realizada em 2000.

“O censo sempre subestima as populações de baixa renda e imigrantes, que respondem menos ao questionário. É preciso um esforço muito grande para que as pessoas respondam ao censo”, explicou Lima, que coordena parte do trabalho na região de Boston, no estado de Massachusetts, que mais concentra brasileiros no país, cerca de 330 mil pessoas.

Segundo ele, o censo do próximo ano vai ter a mesma dificuldade de registrar o número total de imigrantes, e por isso a campanha de conscientização começou mais cedo.

“Muitos imigrantes têm medo de responder ao censo, mesmo que seja totalmente anônimo.” O censo não distingue entre brasileiros com documentação ou sem, explicou, não sendo um risco para a população que vive ilegalmente no país. “As pessoas têm medo, mesmo assim, e por isso é importante a mobilização dos brasileiros, para mostrar que não há risco.”

O diretor do Centro do Imigrante Brasileiro é um dos que têm suspeitas, e defende até mesmo um boicote ao censo.

A segurança dos imigrantes, mesmo ilegais, é algo ressaltado também pela diretora regional do Census Bureau em Boston, Kathleen Ludgate. Em entrevista ao G1, ela explicou que a confidencialidade é obrigatória e que, por lei, não se pode distribuir as respostas individuais para nenhuma agência governamental.

"Nenhuma outra agência do governo tem acesso às informações do censo, que são protegidas por lei, e a Justiça sempre acatou a proteção ao sigilo", disse. Ela é coordenadora do trabalho do censo nos estados de Connecticut, New Hampshire, Vermont, Maine, Rhode Island, parte de Nova York e Porto Rico.

Segundo dados do próprio censo, a lei federal Title 13 proíbe a divulgação de dados pessoais coletados por 72 anos. Nenhuma agência governamental, nem mesmo o presidente dos Estados Unidos tem acesso privilegiado aos dados pessoais coletados pelo censo e a lei Title 13 esá acima de qualquer mandado judicial.

Contagem– A contagem da população norte-americana, que acontece a cada dez anos, é feita de uma forma diferente da brasileira. Enquanto no Brasil os recenseadores fazem toda a contagem visitando a população de casa em casa, lá, uma primeira contagem é feita pelo correio. O censo envia formulários a todos os endereços e aguarda as respostas, que são registradas. Os recenseadores visitam apenas as casas de quem não respondeu ao formulário.

As estatísticas do censo dizem que a população atual dos Estados Unidos deve ser de pouco mais de 307 milhões de pessoas. Segundo o Ministério de Relações Exteriores, os Estados Unidos são o país que atrai mais brasileiros, e o número de imigrantes do Brasil é de 1,24 milhão, segundo levantamento dos postos consulares.

Apesar disso, o censo norte-americano de 2000, o último realizado, apontou que havia apenas 212 mil brasileiros no país, e o levantamento por amostragem realizado em 2007 apontava 342 mil pessoas, o que torna o grupo menos relevante na hora em que são tomadas as decisões de política pública pelos governos nacional e local.

Pelos dados oficiais do censo registrados pelo governo norte-americano, há mais de 30 milhões de imigrantes vivendo no país. De acordo com esses números, a comunidade brasileira é apenas a 24ª na lista de grupos estrangeiros no país, liderada de longe pelos mexicanos, com mais de 11 milhões de imigrantes. Se os Estados Unidos contabilizassem todos os 1,24 milhão de brasileiros, a comunidade do país seria a 5ª maior, perdendo apenas para México, China, Filipinas e Índia.

“O censo impacta a população porque vários recursos do governo federal são distribuídos para os estados e para as cidades com base na população. Então, se alguém não é contado, o recurso recebido é menor de que a população que depende dele”, explicou Lima.

Todas as fórmulas do governo federal que levam em consideração a população, seja saúde, educação e uma série de programas federais, dependem da correção dos dados. “Se os imigrantes não respondem ao censo, o dado do governo fica errado e a distribuição de verba é feita de forma equivocada.”

Segundo a diretora do censo, um outro fator relevante é que várias formas de representação política do país são planejadas com base na população. É importante saber o número real de brasileiros pelo censo para que o grupo esteja representado politicamente de forma correta. Ela explicou, entretanto, que o governo não checa os dados enviados pela população pelo correio, e que o censo se baseia no que for respondido. "Não há resposta errada. O que estiver preenchido é o que vai ser levado em conta", explicou.

Contando brasileiros

Segundo Lima, apesar da grande importância de todos os brasileiros responderem ao censo, a contagem a ser realizada no próximo ano tem problemas.

“Os brasileiros não vão aparecer nos dados da contagem como ‘brasileiros’ [não há essa alternativa], mas como ‘outros’, pois o censo não inclui esta categoria [brasileiros] de imigrante”, explicou. Mas, no formulário, há um campo em branco no qual o imigrante pode escrever ali a nacionalidade. Ludgate alegou ser impossível ter opção de todos os grupos estrangeiros que vivem nos EUA, mas disse que os brasileiros podem preencher por escrito esta origem na parte adequada.

Segundo ele, é importante que o imigrante registre que é brasileiro, para que se possa pedir uma tabulação especial. “Não é garantido, mas pelo menos há o registro. Mas é preciso que todos respondam ao censo.”

“Toda classificação do censo, historicamente, é um processo político. O primeiro censo dos EUA só incluía homens brancos, donos de propriedade. Depois incluíram mulheres, incluíram negros, depois entrou uma categoria de hispânicos. Hoje, como há vários novos grupos, existe um movimento para se aumentar o número de categorias no registro do censo”, explicou.

A diretora do Census Bureau explicou que a participação no censo pode tornar a comunidade brasileira mais forte politicamente. "Os brasileiros podem se fazer mais visíveis para o governo", disse.

Segundo Lima, registrar o número real de brasileiros que vivem no país é mais um passo para que o grupo legitime sua luta por direitos junto ao governo.

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