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quarta-feira, 24 de abril de 2024

EUA contestam pílula brasileira para emagrecimento

2008-12-24 22:26:00

A entrada ilegal nos EUA de pílulas de emagrecimento fabricadas no Brasil têm colocado médicos e a polícia americana em alerta.

Os produtos, feitos em farmácias de manipulação, contêm derivados de anfetamina –substância estimulante da atividade do sistema nervoso central– proibidos nos EUA, mas liberados no Brasil. Um grupo de brasileiros foi preso em razão do comércio. Estudo da Faculdade de Medicina de Harvard, publicado ontem no "Journal of General Internal Medicine", mostra que esses remédios já afetam a saúde de americanos e de brasileiros que vivem nos EUA.

No trabalho, o clínico-geral Pieter Cohen, professor na Escola de Medicina da Harvard e médico no Cambridge Health Alliance, relata casos de pacientes que usaram as pílulas brasileiras para a perda de peso e sofreram aumento da pressão arterial, dores no peito e na cabeça, taquicardia, insônia, palpitação, entre outros.

Em estudo anterior, publicado no ano passado, Cohen constatou que uma a cada cinco brasileiras residentes nos EUA já usaram pílulas à base de anfetaminas para emagrecer. O Brasil é o terceiro maior consumidor de anfetamina do mundo, segundo a ONU (Organização das Nações Unidas).

Segundo o médico, um dos ingredientes dessas pílulas –que também podem conter tranqüilizantes, antidepressivos, laxantes e diuréticos– é o femproporex, substância vendida legalmente no Brasil, de uso controlado. Está presente em grande parte das fórmulas de emagrecimento e age no sistema nervoso, diminuindo o apetite. Entre outros riscos, pode causar dependência.

Cohen afirma que o femproporex nunca chegou a ser aprovado pela FDA (a agência dos EUA que regula alimentos e medicamentos) porque diversas pesquisas clínicas não demonstraram nem a segurança e nem a eficácia da substância.

O médico conta que começou a se preocupar com o uso dessas drogas nos EUA quando passou a atender um número cada vez maior de pacientes que se queixavam de sintomas inexplicados, como dores no peito, tremores, dor de cabeça, insônia e náuseas.

O pior, relata Cohen, é que muitos dos pacientes não revelam aos médicos que estão usando os anorexígenos brasileiros porque temem represálias. "Quando isso acontece, essas pacientes podem receber um cuidado inapropriado, pois os sintomas podem ser incorretamente associados a outras doenças", disse Cohen à Folha.

Mercado- Em geral, segundo o médico, esses remédios são vendidos às escondidas em lojas de conveniência americanas ou enviados por parentes e amigos de brasileiros que vivem nos EUA.

Em maio deste ano, a polícia americana prendeu um grupo de brasileiros que vendia essas pílulas em Marlborough, no Estado de Massachusetts. No dia do flagrante, o grupo havia recebido do Brasil uma caixa com mais de 3.000 pílulas. O remédio era chamado de "dr. Caveirinha" (em inglês, dr. Skeleton), uma referência à perda de peso que ele proporcionaria.

Segundo Cohen, um dos seus pacientes perdeu o emprego por conta do uso das pílulas para emagrecimento. Ele trabalhava como motorista de caminhão quando foi submetido a um teste toxicológico- prática corriqueira nas empresas americanas-, que constatou anfetamina na sua urina.

"Tenho visto pacientes viciados nessas pílulas. Simplesmente não conseguem parar de consumi-las", diz Cohen.

O psiquiatra Ronaldo Laranjeira, que coordena a unidade de pesquisa em álcool e drogas na Faculdade de Medicina da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), também relata ter atendido vários pacientes dependentes de anfetamina. Um deles, conta, é uma procuradora da Justiça que está afastada do trabalho há vários anos porque não consegue se livrar do uso de anfetaminas.

"A fiscalização no Brasil não tem controle, é débil. As pessoas compram até receita médica. Há muitas farmácias que incluem no preço da fórmula [das pílulas emagrecedoras] o valor da receita médica", alerta.

Consumo– Um estudo divulgado em setembro pelo Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) revelou dados alarmantes sobre o mercado de anfetamínicos: o consumo mundial já supera o da cocaína e o da heroína somados.

Em razão do resultado, a organização ressaltou os perigos que envolvem o uso desse tipo de substância, que costuma ser considerada inofensiva. A pesquisa estimou que a produção de estimulantes chegue a 500 toneladas e movimente US$ 65 bilhões por ano.

O relatório especifica que o consumo das drogas sintéticas permaneceu estável nos países chamados desenvolvidos, mas aumentou no Sudeste Asiático e no Oriente Médio.

Segundo o presidente da entidade, Antonio Maria Costa, a situação também é crítica nos países latino-americanos -a Argentina é o maior consumidor de anfetaminas do mundo e o Brasil, o terceiro. Para combater a proliferação da droga, a ONU lançou o programa "Smart", que pretende difundir informações sobre os males causados pelas anfetaminas e auxiliar governos de todo o mundo a diminuir o consumo.

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