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quinta-feira, 28 de março de 2024

Brasil e os países que mantêm embaixadas na Coreia do Norte

2017-12-21 09:02:00

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Image captionCoreia do Norte é frequentemente apresentada como sendo completamente isolada do resto do mundo. Não é bem assim

A Coreia do Norte é frequentemente apresentada como sendo completamente isolada do resto do mundo, mas, na realidade, possui relações diplomáticas permanentes com quase 50 países.

Quais são eles e quão próximos são esses laços?

A tensão internacional com a Coreia do Norte, que recentemente testou mais um míssil nuclear, parece aumentar a cada dia. Mas o aparente isolamento do país comandando por Kim Jong-un disfarça uma surpreendente expansão de sua rede diplomática.

Desde 1948, quando foi criada, a Coreia do Norte estabeleceu relações diplomáticas com mais de 160 países e mantém 55 embaixadas e consulados em 48 nações.

Um número menor, porém significativo de países- 25 no total- têm missões diplomáticas na Coreia do Norte, incluindo o Brasil, e algumas nações europeias, como Reino Unido, Alemanha, e Suécia, conforme mostra um mapeamento feito pelo Instituto Lowy.

China e Rússia foram os primeiros a estabelecer relações diplomáticas com Pyongyang, após a criação da República Democrática da Coreia.

O Brasil possui uma embaixada na capital norte-coreana desde 2009. O diplomata gaúcho Cleiton Schenkel, de 46 anos, mora lá com a mulher, também servidora pública (em licença), e o filho pequeno há pouco mais de um ano – ele é o único integrante do corpo diplomático brasileiro no país que se tornou o principal foco de tensão global.

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Image caption25 países têm missões diplomáticas na Coreia do Norte, incluindo o Brasil, Reino Unido, Alemanha, e Suécia

Por causa dos recentes testes com mísseis nucleares realizados pelo regime de Kim Jong-un, os Estados Unidos têm pressionado o restante do mundo a romper relações com Pyongyang. A representante norte-americana nas Nações Unidas, Nikki Haley, fez um apelo para que "todas as nações cortem todos os laços" com a Coreia do Norte.

Entre os que atenderam aos pedidos dos EUA estão Espanha, Kuwait, Peru, México, Itália e Myanmar – todos expulsaram os embaixadores e diplomatas norte-coreanos nos últimos meses.

Portugal, Uganda, Singapura, Emirados Árabes e Filipinas suspenderam relações ou adotaram outras medidas de retaliação diplomática.

Mas muitas missões da Coreia do Norte ao redor do mundo – e aquelas com representação em Pyongyang – continuam operando. Não há previsão, por exemplo, de fechamento da embaixada brasileira na capital norte-coreana.

Em entrevista à BBC Brasil em setembro, Cleiton Schenkel deu alguns detalhes da rotina num dos países mais fechados do mundo.

"Temos a exata noção da sensibilidade da situação. Não vivemos com medo ou em pânico. Mas não se pode negar que estamos apreensivos, especialmente por causa do atual momento", disse o diplomata brasileiro.

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Image captionA Coreia do Norte celebrou testes com mísseis emitindo selos comemorativos

Relações mais fortes

Apesar da tensão internacional e da contínua troca de ameaças entre o presidente norte-americano Donald Trump e o norte-coreano Kim Jong-un, alguns países parecem estar reforçando os laços com a Coreia do Norte.

Pyongyang vem cooperando com uma série de nações africanas em projetos de construção e mantém com elas negociações sobre energia e agricultura.

Por outro lado, só seis das 35 nações que integram a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE)- que reúne os países mais desenvolvidos do mundo- mantêm missões na Coreia do Norte.

Estados Unidos, Japão, França e Coreia do Sul nunca estabeleceram relações com Pyongyang. Isso significa que os EUA e alguns de seus aliados asiáticos mais importantes dependem das esparsas informações de outros países para saber o que ocorre dentro da Coreia do Norte.

Essas informações vêm de nações como Alemanha, Reino Unido e Suécia, que, por pouco, não convocaram seus embaixadores e fecharam suas missões no país de Kim Jong-un.

Recursos legais e ilícitos

A rede de relacionamentos da Coreia do Norte na Ásia, Europa, Oriente Médio e África tem sido crucial para gerar receitas, tanto legais quanto ilícitas, e driblar as contínuas sanções comerciais unilaterais e da Organização da Nações Unidas (ONU).

São muitas as alegações de que essas embaixadas operam como fachadas para atividades ilícitas.

Países europeus que abrigam missões norte-coreanas reclamam que prédios de embaixadas têm sido ilegalmente sublocados para negócios locais.

No Paquistão, – país tradicionalmente simpático a Pyongyang – um roubo na residência de um diplomata norte-coreano levantou suspeitas de que ele tenha envolvimento num grande esquema de tráfico de bebidas alcóolicas.

Suspeição

Tanto do lado que recebe diplomatas quanto do que os envia, há relação de suspeição. Agências de inteligência de cada nação encaram os oficiais do outro país como suspeitos.

Os diplomatas são monitorados de perto. A Coreia do Norte submete os próprios oficiais a um intenso escrutínio de contrainteligência, por temor de que eles desertem.

Diante de todas essas barreiras, a pergunta óbvia é: O que a diplomacia pode alcançar?

Para países socialistas ou comunistas, como Cuba e Laos, o relacionamento com a Coreia do Norte traz a aparência de um apoio ideológico mútuo.

Mas, atualmente, essa relação diplomática fraternal se sustenta mais pelo sentimento comum de antiamericanismo do que por uma ideologia de esquerda, como é o caso, também, dos laços com Síria e Irã.

No caso do Brasil, o atual ministro de Relações Exteriores, Aloysio Nunes, já disse que a missão brasileira na Coreia do Norte é testemunha importante do que ocorre no país.

"(O diplomata brasileiro que está em Pyongyang) É um funcionário corajoso, cumprindo bem o seu papel, sobretudo para nos dar informações sobre aquilo que acontece num ponto nevrálgico da política mundial. E nós vamos mantê-lo lá", disse Nunes, em setembro, durante viagem a Pequim.

Sentimentos positivos

Qualquer que seja o objetivo primário no estabelecimento de relações diplomáticas, é esperado dos funcionários de Pyongyang que fomentem apoio ao governo de Kim Jong-un e que desfaçam sentimentos "hostis" contra o país.

Missão que, às vezes, é colocada em prática de forma inusitada. Em 2014, oficiais norte-coreanos visitaram uma barbearia de Londres para repreender o barbeiro por um pôster no qual Kim Jong-un aparece com a seguinte legenda: "Seu cabelo está num dia ruim? 15% de desconto nos cortes masculinos durante o mês de abril".

O valor da diplomacia

Países ocidentais que possuem missões em Pyongyang, como a Alemanha, enxergam vantagens em manter os canais diplomáticos de comunicação abertos, por acreditarem que a diplomacia é a melhor forma de lidar com a Coreia do Norte.

Essas missões também garantem um serviço humanitário importante – foram diplomatas suecos, por exemplo, que conseguiram acesso ao estudante norte-americano Otto Warmbier, que foi preso em Pyongyang em 2016 e morreu pouco depois de seu retorno aos Estados Unidos.

Um ex-embaixador do Reino Unido em Pyongyang argumentou que a embaixada valia a pena, já que custava pouco aos cofres públicos e era estratégica para atuar como "olhos e ouvidos da comunidade internacional numa situação potencialmente volátil".

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Rex Tillerson, indicou que os Estados Unidos podem se dispor a dialogar com a Coreia do Norte se o país "conquistar de volta seu lugar à mesa".

Mas qualquer que seja a orientação do governo Trump quanto ao valor da diplomacia e o relacionamento que deseja manter com Pyongyang, o mapeamento feito pelo Instituto Lowy mostra que a tendência mundial é de um aumento dos laços diplomáticos entre os países em geral.

Só oito dos 43 países da OCDE e do G-20 (grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo) reduziram suas redes diplomáticas nos últimos dois anos, apesar das restrições orçamentárias provocadas pela crise financeira de 2008.

Outros 20 países expandiram suas relações diplomáticas, entre os quais Hungria, Turquia e Austrália.

O papel das embaixadas como berço diplomático parece estar se adaptando e sobrevivendo. É o caso até para os países mais isolados do mundo.

A existência de laços, ainda que frágeis, entre Pyongyang e o resto do mundo mostram que as opções diplomáticas com a Coreia do Norte ainda não se exauriram.

Sobre esse texto

Esse texto analítico foi produzido a pedido da BBC por Alex Oliver, diretor do Programa de Diplomacia e Opinião Pública do Instituto Lowy, um Think Tank baseado na Austrália, e por Euan Graham, diretor do Programa Internacional de Segurança do Instituto Lowy.

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