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quinta-feira, 28 de março de 2024

Cinco perguntas para entender a crise com a Coreia do Norte

2017-07-07 09:09:00

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Image captionCom escalada militar, futuro da Coreia do Norte é incerto

No dia da Independência dos Estados Unidos, 4 de julho, a Coreia do Norte lançou com sucesso um míssil balístico intercontinental com capacidade de atingir o Alasca.

A televisão estatal norte-coreana divulgou imagens do teste, chamado de "presente aos Estados Unidos", e anunciou que o feito coloca o país no patamar de "potência nuclear" que é agora capaz de "atingir qualquer parte do mundo".

No dia seguinte, os Estados Unidos e um de seus aliados asiáticos, a Coreia do Sul, conduziram, em resposta, um teste de mísseis no território do sul-coreano.

Autoridades dos dois países emitiram, então, um comunicado destacando que a moderação "é tudo o que separa a trégua da guerra".

Na sequência, os americanos convocaram uma reunião de emergência no Conselho de Segurança da ONU, em Nova York, onde anunciaram que pretendem apresentar um conjunto de sanções ao país asiático e elevaram o tom do discurso:

"Podemos usar (nossas forças militares) se precisarmos", alertou a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Nikki Haley.

A relação conflituosa entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos e seus aliados asiáticos não é recente, mas o lançamento bem-sucedido de um míssil que poderia chegar à fronteira americana aumenta a preocupação quanto a um potencial confronto armado.

Entenda a crise entre as nações e quais são as chances de uma guerra.

1. Como estão as relações entre a Coreia do Norte e os EUA?

Antes de deixar a Presidência dos Estados Unidos em 2016, Barack Obama afirmou ao recém-eleito Donald Trump, segundo a mídia americana na época, que a Coreia do Norte seria "o problema mais urgente" que a nova administração iria enfrentar.

Desde a posse de Trump, a Coreia do Norte tem progressivamente realizado testes de mísseis, embora os Estados Unidos e aliados tenham conseguido frustrar algumas das empreitadas.

Enquanto isto, a retórica de ambos os países tem ficado mais agressiva. Trump tem expressado publicamente preocupação com o programa nuclear norte-coreano e comentou após o último teste:

"É um momento crítico, francamente, para o mundo, por que vocês estão vendo o que está acontecendo", disse Trump, que chamou o teste de "ameaça" da Coreia do Norte.

"Vamos confrontá-la de maneira forte", acrescentou Trump nesta quinta-feira, na Polônia, ressaltando que o país europeu apoia a ação americana.

"EmbaixadoraDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionA embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, defendeu sanções à Coreia do Norte em encontro no Conselho de Segurança

Na reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU, os EUA anunciaram que irão apresentar um projeto com sanções econômicas à Coreia do Norte.

A embaixadora Nikki Haley argumentou no encontro que os norte-coreanos seguem uma clara "escalada militar".

"Uma das nossas capacidades reside nas consideráveis forças militares. Se tivermos que usá-las, faremos isso. Mas preferimos não ter que seguir nessa direção", afirmou ela.

Haley também alertou que os Estados Unidos poderiam banir trocas comerciais com os países que têm relações de negócios com a Coreia do Norte, o que impactaria diretamente a China.

Enquanto isso, Pyongyang diz que não pretende negociar a menos que os Estados Unidos ponham fim à sua "política hostil" contra a Coreia do Norte.

Os Estados Unidos já mantêm sanções econômicas contra Pyongyang, embora não sejam monitoradas, e faz manobras militares na fronteira das Coreias, incluindo um sistema de defesa antimísseis, ainda inoperante.

Em visita à Coreia do Sul em abril, o vice-presidente americano, Mike Pence, já tinha alertado a Coreia do Norte a não colocar à prova a determinação ou a força do exército americano.

Em resposta, o representante norte-coreano na ONU, Kim In Ryong, disse que o discurso americano tem "criado uma situação perigosa em que a guerra termonuclear pode eclodir a qualquer momento".

2. Qual é a posição de outras potências?

Coreia do Sul e Japão, vizinhos asiáticos da Coreia do Norte e aliados dos Estados Unidos, são os que têm demonstrado mais preocupação com o desenvolvimento nuclear norte-coreano e se dizem abertos a sanções econômicas.

O presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in, disse na quarta-feira que o aumento do poderio militar norte-coreano "está indo muito mais rápido que o esperado".

E, na terça-feira, o Japão afirmou que "repetidas provocações como essa são absolutamente inaceitáveis".

Durante o encontro do Conselho de Segurança da ONU em Nova York, a França também declarou apoio a sanções rígidas à Coreia do Norte.

"MíssilDireito de imagemGETTY IMAGES
Image captionLançamento de míssil em ação conjunta dos Estados Unidos e da Coreia do Sul após demonstração norte-coreana

Enquanto isso, nações como China e Rússia têm cobrado que ambos os lados reduzam suas atividades militares. Esses países podem vetar as sanções propostas pelos Estados Unidos.

A China chegou a condenar em outras ocasiões a atividade nuclear do vizinho asiático e aliado. Mas no último encontro de Nova York disse que "meios militares não devem ser uma opção".

A Rússia, por sua vez, já se manifestou contra o projeto americano dizendo que uma investida militar seria inadmissível e que "sanções não resolverão o problema".

3. Como se chegou a este ponto?

Antiga colônia japonesa, a Coreia do Norte ganhou independência após a Segunda Guerra Mundial. O fim do conflito internacional a afastou a influência direta do Japão, mas o país continuou alvo do jogo político, e, em seguida, foi dividido entre sul, capitalista e apoiado pelos Estados Unidos, e norte, comunista da antiga União Soviética.

Ambos os lados se proclamavam o legítimo governo da Coreia e entraram num conflito armado de três anos. O armistício de 1953 deu fim ao confronto e selou a separação das Coreias.

Desde então, as relações da Coreia do Norte com os Estados Unidos e a Coreia do Sul são hostis e constante motivo de preocupação do Ocidente.

A primeira grande crise ocorreu nos anos 1990, quando a Coreia do Norte começou a produzir plutônio, combustível para armas nucleares.

A iniciativa levou o governo Bill Clinton a ameaçar bombardear o país, mas negociações subsequentes resultaram num pacote de apoio econômico dos Estados Unidos sob a condição de suspensão das atividades nucleares pela Coreia do Norte.

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Image captionHabitantes da Coreia do Norte acompanham lançamento de míssil com capacidade de atingir o Alasca

Em 2003, no entanto, o país asiático deixou o Tratado de Não Proliferação Nuclear e, em 2006, realizou seu primeiro de seis testes com mísseis nucleares.

Kim Jong-un, que assumiu o poder em 2011, deu sequência e aumentou o programa armamentista iniciado por seus antecessores, que enxergam a estratégia como meio para sustentar o regime.

Hoje, a Coreia do Norte é um dos países mais secretos e isolados do mundo, e um dos motivos é exatamente sua escalada nuclear.

Segundo o Departamento de Estado dos Estados Unidos, o país asiático gasta um quarto de seu Produto Interno Bruto (PIB) no desenvolvimento militar, embora sua população enfrente altos índices de pobreza.

4. Qual é a capacidade militar da Coreia do Norte?

A Coreia do Norte teria entre 15 e 20 bombas nucleares, segundo o Conselho de Relações Internacionais (CFR, na sigla em inglês).

Além da demonstração do dia 4 de julho, que foi confirmado pelos Estados Unidos, o país asiático já tinha realizado, desde 2006, outros cinco testes nucleares. O poder dos mísseis aumenta a cada lançamento, embora especialistas não tenham exata noção da capacidade dessas armas.

Estima-se que o míssil lançado nesta semana chegue a uma distância de até 8 mil quilômetros, capaz, portanto, de atingir a fronteira americana, mas ainda não tão potente para mirar em alvos específicos.

Do total de seis lançamentos nucleares, três ocorreram sob a administração de Kim Jong-un, que claramente vem escalando a capacidade militar do país.

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Image captionLançamento de míssil pela Coreia do Norte, depois confirmado pelos Estados Unidos

Pelo menos outros 79 testes com mísseis menos potentes foram empreendidos desde 2012 durante a gestão de Jong-un, de acordo com um banco de dados do Centro de Estudos de Não Proliferação James Martin.

Isso é muito superior às ações de seus dois antecessores na dinastia Kim – que acumularam em torno 15 lançamentos cada ao longo de mais de uma década.

Mesmo sendo um país subdesenvolvido, a Coreia do Norte tem orçamento militar de US$ 7,5 bilhões (R$ 24,6 bilhões) e um exército de mais de 1 milhão de soldados numa população de cerca de 25 milhões – ou seja, com 4% dos norte-coreanos, diz o Departamento de Defesa dos EUA.

5. E agora para Washington?

John Nilsson-Wright, do centro de estudos Chatham House, explicou que o novo teste de míssil é um divisor de águas em termos simbólicos e práticos, já que, pela primeira vez, o território americano entrou na mira direta dos norte-coreanos.

"O presidente dos Estados Unidos tem que aceitar que a Coreia do Norte representa um perigo 'real e presente' não apenas aos países do nordeste da Ásia e aliados americanos, mas aos próprios Estados Unidos", escreveu para a BBC.

Frank Aum, do Instituto Coreia-EUA, da Universidade Johns Hopkins (EUA), reforçou que Pyongyang traz uma ameaça direta aos EUA, Coreia do Sul e Japão.

No site da Iniciativa de Ameaça Nuclear (NTI), ele apresentou duas possíveis opções aos americanos. Uma delas seria o que os Estados Unidos já vêm tentando empreender, que é seguir na linha de sanções e outras medidas diplomáticas.

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Image captionLíder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, celebra lançamento bem-sucedido de míssil intercontinental

"O problema disso é que as armas nucleares da Coreia do Norte vão continuar a existir, assim como a tendência de Pyongyang em seguir desenvolvendo tecnologia e equipamentos".

Outra via, diz Aum, consistiria em realizar investidas contra as unidades militares da Coreia do Norte. Ele lembra, no entanto, que o país tem mais de cem instalações militares, o que reduz as chances de sucesso. Além disso, há grande possiblidade de retaliação norte-coreana ao território do Sul.

"Por isso a maioria dos especialistas acredita que um ataque militar não é uma opção", escreveu.

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