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Casos de assaltantes mortos por suas vítimas fomentam debate

2016-09-20 15:02:00

O caso de um açougueiro que perseguiu, atropelou e matou um ladrão que tinha entrado no seu açougue, na semana passada, intensificou a polêmica sobre atos de "justiça feitos com as próprias mãos" na Argentina.

O açougueiro Daniel "Billy" Oyarzún, de 37 anos, foi preso, mas acabou sendo solto depois de quatro dias, em meio a apelos de seus familiares diante das câmeras de TV e de reações que vieram até mesmo do presidente Mauricio Macri.

Dias antes desse episódio, um médico havia matado, com quatro tiros, um assaltante que tentara roubar seu carro no momento em que saía do consultório.

Tanto Daniel Oyarzún quanto o médico Lino Villar Cataldo, de 61 anos, disseram que se arrependeram da reação que tiveram depois de terem sido abordados pelos assaltantes.

Os dois casos ocorreram em localidades na província de Buenos Aires, em áreas afastadas do centro da capital argentina. O médico e o açougueiro passaram quatro dias presos e agora respondem em liberdade por homicídio, de acordo com seus advogados.

Repercussão

Os episódios tiveram enorme repercussão na Argentina. E não foram os únicos deste ano: antes, um taxista havia matado um ladrão e um comerciante havia colocado gasolina no corpo de um assaltante, ocupando as páginas dos sites de notícias e as telas da TV.

"Andar armado, (fazer) justiça com as próprias mãos ou (praticar) linchamentos não são o caminho correto", disse o ministro da Justiça, Germán Garavano, no fim de semana, às rádios locais, agregando que "desta vez quem morreu foi o delinquente, mas muitas vezes quem morre é a vítima".

"Ao menos que como sociedade queiramos empreender o caminho sem retorno da lei da selva, não cabe outra postura que não a defendida pelo ministro", opinou em editorial o jornal La Nación – ressaltando, porém, o estresse ao que o açougueiro e o médico foram submetidos no episódio e o "altíssimo grau de impotência com o qual muitos (argentinos) vivenciam o drama da insegurança e do baixo índice de condenações judiciais".

Mas os comentários do ministro foram feitos pouco depois que moradores da localidade de Zárate realizaram dois dias seguidos de protestos pedindo a liberdade do açougueiro e de o próprio Mauricio Macri ter aderido ao coro pela soltura de Oyarzún.

"Ele (açougueiro) deveria estar com sua família, tranquilo, tratando de refletir sobre tudo o que aconteceu, enquanto a Justiça toma uma decisão", disse Macri a uma rádio de Buenos Aires.

 

 

"ManifestaçõesImage copyrightGUILLERMO RODRÍGUEZ ADAMI/CLARÍN
Image caption

Manifestações de apoio a Oyarzún, pedindo sua libertação; jornal fala dos perigos de justiça com as próprias mãos levar à 'lei da selva'

Entrevistada pela BBC Brasil, a ativista de direitos humanos Graciela Fernández Meijide disse que de fato a Argentina vive problemas preocupantes em segurança pública, mas pediu que a população "deixe a Justiça atuar".

"É incorreto que jornalistas, políticos e até o presidente opinem sobre esses casos. Os juízes se sentem pressionados. Além disso, a vingança está sempre fora da lei. Eles (médico e açougueiro) dizem que se pudessem voltar no tempo, não teriam feito o que fizeram. Não sei se é apenas estratégia da defesa, mas o que fizeram é lamentável", disse Meijide.

Ainda segundo o editorial do La Nación, a crise de segurança só será contornada com mais policiamento nas ruas, mudanças legais e mais efetividade do Poder Judiciário, "se não quisermos que a justiça com as próprias mãos substitua a justiça dos tribunais".

'Não foi de propósito'

Em mercados de Palermo, em Buenos Aires, era comum ver transeuntes atentos aos aparelhos de TV que transmitiam ao vivo novidades do caso do açougueiro.

Muitos queriam ouvir os apelos do irmão e da mulher do comerciante, na época ainda preso. "Meu irmão é um trabalhador. Ele é uma vitima. Não é um bandido. Deve ser solto e voltar a ter a vida que sempre teve", disse. Sua mulher, também aos prantos, pediu "justiça" porque seu marido, disse, era "vítima" e "não assassino".

No fim de semana, quando reabriu as portas do seu açougue, logo depois de ter saído da prisão, o açougueiro encontrou estilhaços de bala na entrada do seu açougue.

A polícia interpretou que se tratou de uma ameaça. "Estou preocupado por mim e por minha família. Eu não o matei de propósito. Eu só o persegui para recuperar o que era meu (dinheiro roubado)", afirmou.

O pai e a ex-namorada do suspeito do assalto, Brian González, de 24 anos, pediram que o açougueiro "pague pelo que fez". "Ninguém tem o direito de tirar a vida de outra pessoa. Não buscaremos vingança. Será a justiça divina que assumirá esta responsabilidade", disse o pai do rapaz.

No caso do médico, familiares do suspeito morto, Ricardo Krabler, de 24 anos, escreveram no Facebook que não "sossegarão" enquanto ele "não pagar pelo que fez".

A mãe de Krabler, Silvia, disse que a versão do médico para justificar o caso "é muito mal contada" e que seu filho "foi fuzilado".

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