2007-08-16 06:26:00
Após cinco anos, uma derrota judicial e com um desafio pela frente, o condado de Montgomery, no estado de Maryland, tomou a dianteira na educação sexual nos Estados Unidos. Neste semestre, combatendo uma ação judicial de última hora, a cidade oferecerá aulas sobre homossexualidade como matéria para alunos da 8ª e do ensino médio dentro do currículo de educação sobre saúde.
Para representantes de escolas, as aulas são um desdobramento natural da educação sexual e dos ensinamentos sobre tolerância e diversidade. Consistem em duas aulas com bastante matéria com duração de 45 minutos para cada ano escolar e um vídeo de demonstração de como colocar preservativos.
Os coordenadores das escolas afirmaram que não têm a intenção de promover uma pauta política que vá além de tolerância e um tipo de formação cultural. "Nosso dever começa pela educação dos alunos", disse Betsy Brown, que supervisionou o desenvolvimento do currículo contando com a consultoria da Associação Americana de Pediatria. "Isso faz parte da educação".
No entanto, pessoas contrárias ao projeto, que entraram com ações para tentar interromper as aulas, argumentaram que as escolas do condado de Montgomery, ao Norte de Washington, foram longe demais.
John Garza, presidente do Cidadãos por um Currículo Responsável, grupo que lidera a oposição, disse que os pais podem bloquear programas de televisão cuja moral consideram duvidosa, "mas fica difícil quando um professor da escola ratifica um comportamento danoso à moral".
Montgomery é um local sobretudo liberal politicamente e com boa formação. Contudo, os opositores da nova grade curricular, retratados pelos coordenadores das escolas como uma minoria, talvez estejam mais em sincronia com o pensamento geral dos pais no restante do país.
Polêmica – O condado de Montgomery pode estar na dianteira do país em termos de educação sexual, mas pode também estar trilhando um caminho isoladamente, abandonada pelo senso comum.
A polêmica ilustra o quanto pode ser difícil o percurso de educadores que se arriscam além da educação tradicional para ensinar os alunos sobre temas sociais delicados, correndo o risco não só de sofrer processos, mas também de perder o apoio de pais e eleitores.
"É um mito a idéia de que nossas escolas não ensinam valores sobre as coisas", declarou a madre Debra W. Haffner, diretora do Instituto Religioso de Moralidade Sexual, Justiça e Cura, que promove debates sobre sexualidade. "Não colocamos comunismo, socialismo e capitalismo em pé de igualdade em nossas aulas sobre política".
Para muitos pais, o namoro entre menino e menina pode não significar que o filho é sexualmente ativo, disse Susan K. Freeman, historiadora da Universidade Estadual de Minnesota, Mankato. Mas quando os filhos são gays, porém, "eles estão anunciando a sexualidade". Os pais possuem uma suposição tácita do que é atividade sexual, e "isso apresenta um problema para muita gente", acrescentou ela.
As aulas da oitava série deixam claro para os alunos gays que "são normais as preocupações sobre como a família e os amigos aceitarão a situação e que o medo de ser alvo de gozações ou até ataques não é infundado".
No ensino médio, as aulas, que partem do princípio de que a identidade sexual é inata, retoma o tema do medo de assumir, mas acrescentam, "Muitas pessoas que são gays, lésbicas, bissexuais ou transgênero comemoram a própria descoberta".
Kevin Jennings, diretor executivo da Rede de Educação de Gays, Lésbicas e Héteros sediada
Garza é contra as escolas ensinarem que a homossexualidade é irreversível e deixarem de citar os maiores índices de incidência de algumas doenças venéreas entre homens gays. "Ao se propor a fazer esse tipo de debate polêmico de julgamento moral, a escola precisa tomar cuidado ou pelo menos ensinar todos os lados", disse ele.