2007-04-24 04:31:00
As mudanças climáticas vão acelerar o crescimento dos peixes que vivem perto da superfície, mas reduzir o daqueles que estão em águas mais profundas. O alerta vem de um estudo australiano divulgado nesta segunda-feira (23) pela revista da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, a PNAS.
Quando se fala dos efeitos do aquecimento global nos oceanos quase sempre o foco é nas enchentes e na elevação do nível do mar. Os efeitos biológicos não são muito abordados, porque é difícil montar um banco de dados do comportamento das espécies que vá longe o suficiente no passado para servir de base de comparação.
O problema foi resolvido pelo grupo de Ronald Thresher, da Organização de Pesquisa Industrial e Científica da Comunidade Britânica, ao estudar os otólitos, pequenas “pedrinhas” de osso que existem dentro do que seria o ouvido dos peixes. Essas estruturas servem para controlar a orientação e a aceleração dos animais e podem ser usadas para descobrir a idade e a taxa de crescimento de cada indivíduo.
Isso acontece porque esses otólitos possuem marcas circulares, deixadas conforme o peixe cresce, que funcionam como os anéis de árvores. Contando essas marcas, cientistas podem calcular quantos anos o animal tem e verificando seu espaçamento, qual a velocidade em que ele cresceu.
A equipe estudou 555 exemplares, com idades entre 4 e 128 anos, de oito espécies comercialmente exploradas típicas do sudoeste do oceano Pacífico. Nas três que costumam viver perto da superfície (a menos de 250 metros) houve aumento no taxa de crescimento, enquanto nas três que vivem nas áreas mais profundas (abaixo dos mil metros de profundidade), o crescimento registrado atualmente está até 30% mais lento do que há 50 anos. Nas espécies em profundidades intermediárias não houve mudança.
Os cientistas acreditam que as alterações têm relação com as mudanças climáticas, que esquentam a água do oceano na superfície e esfriam as águas profundas -– um fenômeno que tem sido observado em oceanos de todo o mundo.
Essa redução na velocidade de crescimento das espécies profundas pode ser especialmente fatal porque esses peixes já sofrem uma intensa pressão da pesca predatória e da falta de alimento.