2007-04-21 03:34:00
“Estou estarrecido”. Foi assim que o desembargador do TRF3 (Tribunal Regional da 3º Região) Nery da Costa Júnior, que é de Mato Grosso do Sul, reagiu à ação da Polícia Federal que nesta sexta-feira, dia 20, apreendeu documentos na residência e no gabinete dele. O magistrado anunciou que vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a forma como a PF agiu.
Nery da Costa Júnior está entre os investigados pela Polícia Federal no esquema de vendas de sentenças, definido como "bingão da Justiça" pelo superintendente da PF em São Paulo, Geraldo José de Araújo. Segundo ele, os magistrados receberiam mensalidade de R$ 20 mil a R$ 30 mil e, ainda um “plus” de R$ 150 mil a cada decisão favorável aos beneficiários pelas ações.
Em Mato Grosso do Sul, a ação apreendeu documentos na casa do empresário Luiz João Dantas, que admitiu ser amigo do desembargador e que, segundo as investigações, usaria essa relação para oferecer favores da Justiça. Em entrevista ao site Campo Grande News , o desembargador negou favorecimento em sentenças.
“Foram à minha casa com essa história de que teria beneficiado determinada empresa. Não tem a menor razoabilidade”, afirmou.
Indagado sobre a ligação como empresário, o desembargador afirmou que os dois sim, são amigos. “Disse que é meu amigo e é. É uma pessoa de bem, homem honrado que conhecei em uma instituição fraterna. Homem equilibrado, sensato com valores de família. Orientado por valores que também professo”, declarou.
STJ- O desembargador informou que vai procurar um advogado que deve entrar com recurso no STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra a forma como a PF agiu no caso. Ele explicou que os policiais já chegaram em sua residência acompanhados da imprensa e submeteram a família à execração pública. Nery da Costa Júnior disse que soube pela Internet da ação quase que de forma simultânea ao acontecimento. “Haveremos de ir até às últimas instâncias. Mais que lastimar, me senti atingido quando meu nome apareceu”.
Perguntado sobre a possibilidade de ser prejudicado por terceiros, disse que não prefere não pensar no fato. “É muito rasteiro. Mas sim pode, nesse mundo em que vivemos. Eu não quero embalar por essa idéia”.
O desembargador afirmou que vai discutir com seu defensor a possibilidade de encaminhar nota pública à imprensa sobre o fato. Declarou, ainda, que, "como sul-mato-grossense, não vai se envergonhar de seus concidadãos, a quem classificou como uma imensa massa de valorosos cidadãos".
“Da minha parte tenho a dizer aos cidadãos de Mato Grosso do Sul que um filho teu não foge à luta. Sou uma bandeira de Mato Grosso do Sul”, afirmou.
O magistrado está no TRF desde 1999. Foi escolhido em uma listra tríplice na vaga em que os indicados são apontados pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), que no Estado fez ampla mobilização pela escolha dele. Antes, foi candidato a deputado estadual, em 1994, pelo PMDB, sem conseguir se eleger. À época, recebeu 2,4 mil votos.