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sexta-feira, 19 de abril de 2024

‘Aquecimento pode inundar 8% das cidades’

2007-04-02 07:21:00

Depois de anos de alertas contra o aquecimento global, finalmente começam a se formar alguns consensos sobre o que precisa ser feito para evitar suas conseqüências mais radicais — que podem levar, por exemplo, à perda de todo o gelo da Groenlândia. Caso isso aconteça, levaria à inundação de 1 em cada 12 cidades no planeta (8% delas).

O quadro aterrador, mas ainda reversível, foi apresentado na Universidade de São Paulo na tarde de quarta-feira (28) por sir David King, conselheiro científico do governo britânico.

O encontro promovido pelo Instituto de Estudos Avançados (IEA-USP) reuniu cientistas para a apresentação das propostas de King, que também é diretor da Agência de Ciência e Inovação do Reino Unido, para combater o aquecimento global.

No evento estavam presentes o professor Edward Krieger, presidente da Academia Brasileira de Ciência, o astrofísico e diretor do IEA João Steiner e o embaixador e ex-Ministro do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Indústria Sérgio Amaral.


 Alerta David King começou esclarecendo de onde vem a preocupação, mostrando o alerta dado pelos resultados de pesquisas custeadas pelo governo britânico. “Tem sido o período quente mais longo da história”, diz King.

Ele explica que o planeta apresenta períodos de temperaturas altas com intervalos entre eles, mas esses picos duram pouco e, normalmente, em alguns anos o calor diminui. No entanto, embora a Terra esteja vivendo um período de alta temperatura, este de agora tem sido “consideravelmente mais longo que o normal”, segundo o conselheiro. "Vivemos em um sistema climático que é determinado pela ação da humanidade."

Em menos de dez anos, a concentração de carbono em suas formas agravadoras do efeito estufa na atmosfera passará de 400 partes por milhão (ppm) se não houver redução nas emissões. O índice aceitável e compatível com o equilíbrio estabelecido pela natureza é de 200 a 270 ppm.


 Conseqüências “Acredito que falta no debate falar sobre os impactos, falar sobre o que gostaríamos de evitar que acontecesse. A perda do gelo da Groenlândia, por exemplo, que é sempre citada como um dos principais impactos. O derretimento inundaria 8% das cidades do mundo. Milhões de pessoas seriam desalojadas”, diz King.

Ele explica que, quando uma área se transforma em líquido, ela vira um rio e posteriormente uma cachoeira. Essa formação acelera a erosão e o derretimento prematuro de outras áreas. Segundo ele, a Groenlândia derrete-se hoje à velocidade impressionante de 200 quilômetros cúbicos a cada hora.

Se o nível do oceano subir a essa medida, partes da Índia e do sudeste asiático ficarão inundadas, além do Japão e do Reino Unido, que terão praticamente todo o seu território coberto pela água em 2050.


 Soluções Para evitar mudanças tão dramáticas no cenário mundial, David King aconselha que o mundo, a exemplo da atitude tomada pela União Européia, estabeleça a meta de reduzir as emissões de carbono e estabilizá-las em 350 ppm até 2020. “Temos que nos adaptar, por que o problema vai existir. Não vamos deixar de ser dependentes de combustíveis fósseis, nosso consumo não vai acabar. Mas temos de mudar de um problema sem solução para um problema com o qual possamos lidar. O índice de 350 ppm ainda traz problemas, mas são problemas com os quais poderemos lidar.”

Para a efetiva diminuição das emissões, King afirma que são necessárias ações em nível nacional e global. “O gerenciamento de riscos é uma tarefa que cada país fará por si, e isso pode ser feito porque os países são administrados por governos que têm autonomia para tomar essas decisões.” Mas a cooperação e a interação entre nações também são importantes passos, “porque se um país fica de fora, também teremos problemas”.

“Como indivíduos, devemos olhar para a energia de uma maneira diferente, devemos tê-la como um bem muito valioso, e isso vai comandar nossas atitudes, vai dizer se preferimos andar a pé ou pegar o carro. Também é preciso falar com as pessoas, influenciá-las. A discussão ainda não este presente o suficiente. As pessoas precisam falar mais sobre o tema”, defende.


 Prática Segundo King, as emissões do Reino Unido baixaram em 40% desde 1990. “E nossa economia não está sofrendo. Vamos bem. É factível lidar com o problema do aquecimento global sem afetar negativamente o desenvolvimento econômico.”

Os britânicos firmaram um compromisso unilateral de, até 2050, baixar em 60% os índices de emissão medidos em 2003. Para isso, apostam no aumento da parcela das fontes renováveis, que promete chegar a 20% do consumo total de energia em 40 anos.

O aumento da eficiência energética, ou seja, a renovação de usinas e a implementação de tecnologias que possam produzir mais energia a partir de uma quantidade menor de matéria, é colocada como passo fundamental para que a meta seja alcançada.

Além disso, a energia nuclear será mais utilizada, e serão feitos investimentos em captura e armazenamento de carbono. Nos transportes, devem ser utilizados cada vez mais os “biocombustíveis”.

Será incentivada a produção da microenergia, para a descentralização da geração. Para isso, energia solar no abastecimento de casas e edifícios, e energia eólica para alimentar fazendas ficarão mais acessíveis.

Por último, a implantação de sistemas que permitam o uso da energia de aquecimento. “Não usamos o calor que lançamos na atmosfera”, diz King, explicando que há um desperdício do que é considerado resíduo ou efeito, e pode ser fonte de energia.

O cientista ainda espera que depois da redução de 60% ainda haja o desenvolvimento de tecnologia limpa ainda desconhecida, e conseqüentemente, que haja uma queda ainda maior nos índices.


 Brasil “O que me chama atenção é a gravidade do problema comparada à displicência com que a sociedade o trata, a falta de atenção. Temos 900 tratados sobre mudanças climáticas no mundo e, não obstante, os resultados são pouco satisfatórios”, lamenta o embaixador e ex-Ministro do Desenvolvimento, Comércio Exterior e Indústria Sérgio Amaral.

O ex-ministro diz que ainda tardia, a mudança no Brasil foi profunda, e que ela se deve à educação e à conscientização das novas gerações. “(Hoje) a conscientização ambiental representa generosidade e sedução, que para a minha geração foram as idéias de esquerda”, diz ele, que vê como cerne do problema o conflito entre as gerações atentas, mais novas, e as com pensamento mas obsoleto, que ainda detém o poder de decisão.

Amaral aponta ainda como grande desafio a manutenção da floresta amazônica, que é agredida pelo desflorestamento. “O comprometimento do Brasil não é menor do que o dos países desenvolvidos, mas nossos desafios são maiores”, diz o ex-ministro, que não se entusiasma com o atual estado das medidas nacionais para a contenção do aquecimento global.

“Pouco se faz ainda no campo da pesquisa em diversidade. Existem problemas com o governo no campo do licenciamento ambiental, que passa por muita burocracia. O meio-ambiente é um patrimônio do país e não damos a atenção devida”, afirma.

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