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Sem andar, Janine pensou em largar profissão, mas voltou atrás para ensinar

2019-02-13 11:08:00

Quinta-feira, 10 de agosto de 2017. Era por volta das 16h40 quando a vida de Janine Collante, 32 anos, mudou completamente. Formada em Educação Física desde 2009, ela seguia em sua motocicleta Honda Biz para o Círculo Militar, na Avenida Afonso Pena, para dar mais uma de suas das aulas: musculação, hidroginástica e treino funcional faziam parte de sua rotina. Naquele dia, atrasada, ela mudou o caminho para o trabalho e teve o caminho da vida alterado ao ser atropelada por um Ford Ka.

“Ele invadiu a preferencial, colidiu com a minha lateral esquerda e me arremessou contra o poste. Eu caí no chão e tive uma lesão na medula. Quebrei a coluna entre a [as vértebras] T9 e a T12 e tive uma lesão medular da cintura para baixo. Perdi a sensibilidade e os movimentos”, diz Janine.

Ela quase morreu no acidente. Além da lesão gravíssima na medula, que provocou a perda dos movimentos, teve fratura exposta, hemorragia interna e ficou em coma por 15 dias. A internação foi de aproximadamente por três meses no total. “Foi uma rota alternativa que eu peguei porque estava um pouco atrasada. Eu sempre vinha pela entrada do Coophasul e pegava a Euler de Azevedo e a Tamandaré. Nesse dia, eu falei vou ali por baixo, e, infelizmente, aconteceu”.

Janine diz que não tinha noção “do estrago” do acidente. “Eu tinha ficado o tempo todo consciente até me colocarem na ambulância. Demorou uns 15 minutos para o bombeiro chegar e eu ainda conseguia falar para o pessoal chamar a minha irmã. Para mim, eu tinha só quebrado a perna, o braço e machucado bastante a barriga, porque eu sentia muita dor”.

"UmUm ano após acidente, educadora física voltou às atividades (Foto: Paulo Francis)

 

Quando ela acordou e teve consciência, ainda passou pouco mais de 20 dias sem saber o diagnóstico. Claustrofóbica, não conseguia fazer o exame de ressonância e, por ter colocado pinos nos braços, não podia ser sedada para o procedimento.

“O médico falou assim: Janine, você teve ruptura total da medula e, provavelmente, você não volte mais andar. Eu falei: doutor, provavelmente ou certeza? Ele pegou uma revistinha bíblica, me deu e falou: se apega em Deus que só o tempo e Deus vão poder te dar resposta. Eu não posso falar que não, e, pode ser que sim. Pode ser que você não volte como antes, mas que consiga levantar, dar uns passinhos. Pode ser que sim”, relembra.

A professora de Educação Física ficou três meses internada, pois, teve um corte no períneo que não aceitou os pontos. A cicatrização teve que ser natural e, somente depois de curar essa ferida, é que ela conseguiu fazer a cirurgia para colocar pinos na coluna e os ossos voltarem ao lugar. “O fato de [eu] fazer atividade física, até confirmado pelos médicos, foi uma das coisas primordiais para a recuperação ter sido mais rápida”.

Após a alta médica, como era de se esperar, ficou muito debilitada, mas diz que a presença da família foi fundamental. A irmã, Janaína, deixou todos os compromissos para cuidar dela. Janine também tem dois filhos, de 5 e 7 anos, que foram uma das motivações para não se deixar abater.

"JanineJanine trabalha todos os dias na academia (Foto: Paulo Francis)

 

Sem poder andar, Janine diz ter pensado em mudar de profissão. Fazer um concurso e trabalhar atrás de um computador. Rapidamente, ela mudou de ideia. Era mais fácil adaptar a rotina e às atividades de educadora física do que ficar quieta. Em agosto de 2018, um ano após o acidente, ainda tomando medicação e fazendo tratamento de fisioterapia, ela voltou ao trabalho, aos poucos. A princípio, em função administrativa na sala de musculação do Círculo Militar.

Janine não conseguiu ficar muito tempo só mexendo com os papéis. Quando um estagiário da sala de musculação saiu de férias, ela decidiu voltar ao trabalho. Aos poucos, foi retomando as atividades de personal trainer. Mais do que isso, voltou até a dar aulas de hidroginástica.

“Voltei a treinar e fazer os exercícios de musculação (da parte superior). Fui sentindo que dava para pegar uma manilha, colocar no colo, no aparelho e resolvi tentar. Quando eu vi, já estava praticamente normal”.

Sobre a aula de hidroginástica, logo que voltou, ela contou a ajuda do outro professor. Ele fazia os movimentos de pernas no momento das aulas. Depois, desenvolveu uma técnica pessoal. Ela baixa os exercícios em vídeo na internet, encaminha para a turma e na hora da aula, vai explicando o que fazer, tirando as dúvidas e corrigindo os movimentos dos alunos. 

"EmEm breve, ela pretende ir ao Hospital Sarah Kubitschek para saber se há possibilidade de recuperar movimentos (Foto: Paulo Francis)

 

Após o acidente, Janine diz que teve apenas uma crise em que duvidou e questionou a razão do que estava acontecendo com ela. “Foram poucas as vezes que eu fiquei nessa de ‘eu não consigo’. A maioria das vezes, pensei: se aconteceu comigo, eu vou fazer a diferença. Tenho dois pequenos para criar, meu pai e minha mãe já estão velhinhos. Falei: não posso fraquejar”.

A situação além de ter mudado completamente a vida de Janine, alterou o curso da vida da irmã dela, Janaína, 37 anos. Ela estava em processo de separação e decidiu se dedicar a cuidar de Janine na recuperação do acidente. Quando ela voltou a trabalhar na academia, Janaína a acompanhava e decidiu mudar os rumos da vida também.

Janaína se separou e como gostava do ambiente na academia, entrou na faculdade de Educação Física. Estudando, agora ela virou estagiária da irmã. “Acho que a gente uniu o útil ao desagradável. Ela falou: eu não vou sair do seu lado e foi uma força para ela terminar o relacionamento. Como ela já treinava faz tempo, falei que podia ajudar, fui dando as instruções e colocando para ler os livros. Até que ela entrou na faculdade e agora é acadêmica de Educação Física”, se orgulha Janine.

A lição que ficou de tudo isso, segundo Janine, foi a de refletir como ninguém consegue viver sozinho para sempre e que todo mundo, uma hora ou outra, vai precisar pedir ajuda. Antes de sofrer o acidente, Janine tinha um emprego estável, ganhava bem e podia dar boas condições de vida aos pais e os filhos, mas que de repente, essas coisas ficaram indefinidas.

 

“Eu estava desapegada de Deus. Porque a gente não tem o costume de agradecer. A gente só pede, pede e não agradece. Era mais ou menos o meu caso. Eu pedia muito, eu tinha e não agradecia. Eu era uma pessoa que, dificilmente, pediria para alguém fechar a uma janela para mim. Eu ia lá e fazia. Com esse acidente, me redimi de muita coisa. Todos nós estamos susceptíveis a qualquer coisa, tanto boa quanto ruim. E nós sempre precisamos de outras pessoas. Não tem como levar uma vida sozinha, sem amigos, sem família. Você até consegue por um tempo, mas não para sempre. Eu tenho muita sorte”.

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