2007-09-25 20:39:00
Em 12 meses o volume de crédito consignado contratado por aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) de Mato Grosso do Sul aumentou 55%, segundo dados da Previdência Social. As operações de crédito acumuladas desde 2004 em agosto deste ano somavam R$ 248.775.241,39 contra R$ 159.641.060,76 em agosto do ano passado. A Federação dos Aposentados e Pensionistas atribui o aumento à perda de renda dos aposentados e alerta que o crédito pode se tornar uma armadilha se não houver controle das contas.
Com risco menor aos bancos, por conta do desconto em folha, o empréstimo consignado tem juros atrativos. Atualmente, o teto da taxa de juros para o empréstimo com desconto em folha na rede bancária, estipulada pelo Conselho Nacional da Previdência Social, é de 2,64% ao mês, ou 36,66% ao ano. O teto anterior era de 2,72%.
Segundo o presidente da entidade, Alcides dos Santos Ribeiro, existem hoje no Estado cerca de 200 mil aposentados e pensionistas. As operações de crédito levantadas junto das instituições bancárias pelo INSS somam no Estado 192.632. Há um ano eram 114.828.
Armadilha – Ribeiro afirma que nos últimos anos os salários dos aposentados e pensionistas passam por reposições bem menores que as do salário mínimo e com isso o poder aquisitivo despencou. “No começo deste governo eram 12 milhões de famílias que viviam com aposentadoria acima do salário mínimo e hoje são 4 milhões. Os que estão perdendo renda por serem da classe média e terem conhecimento maior estão no sufoco e correndo atrás de empréstimo. Acham que é a solução, mas estão só estão ampliando o tamanho da corda para se enforcar”, alerta.
Segundo ele, há varias situações. Uma é que com o poder de compra deprimido, os beneficiários da Previdência vêem nos empréstimos uma forma e manter o padrão de vida. Outra é que muitos são arrimos de família e acabam, através do crédito, assumindo responsabilidades por parentes.
Embora o crédito a juros baixos atraia cada vez mais adeptos, muitos aposentados preferem fazer manobras caseiras para que o dinheiro renda a se endividar. Amélio Rodrigues conta que se aposentou no começo na década de 80 e em 1985 veio de Curitiba (PR) para morar com a família em Campo Grande. Para ele, o dinheiro ficou mais curto e o poder aquisitivo também. “Antes eu viajava todo ano, duas vezes. E desde que vim para cá não pude viajar nem para ver meu irmão que mora em Aquidauana”, conta. Ele diz que já foi assediado, mas resistiu em contratar empréstimo consignado porque verificou que a somatória das taxas implicava no fim em uma conta maior que os juros ofertados, de 1,68% ao mês.
Seu amigo, Alexandre Tambosi, 78 anos, também demostrou ser avesso aos empréstimos. “Que fique longe de mim”, disse. Apesar disso, pondera que é difícil se manter com salário mínimo e observa que além do custo de vida o aposentado geralmente é idoso e também tem gastos elevados com medicamentos. Seguindo a mesma linha, o aposentado José Marques, de 84 anos, acha que é melhor encurtar os gastos do que contrair novos débitos. “Empréstimo é pagar juro do que é nosso”, compara.