19.2 C
Amambai
sexta-feira, 29 de março de 2024

Garotas invadem o futebol e dão um show de bola

2007-09-10 23:27:00

Futebol é coisa de mulher. E nem os provocadores que insistem em dizer o contrário fazem as garotas que trocaram as bonecas pela bola mudarem de idéia. As meninas que aproveitam o recreio no colégio para "bater uma bolinha" e pedem aos pais para treinar no time da escola não estão preocupadas no que os garotos dizem, mas nos gols que elas vão fazer.

Jade Solano Tzirulnik, 11 anos, começou a jogar bola aos 9. "Meu pai disse que eu tinha jeito", lembra. Ela treina duas vezes por semana com meninas de 11 a 15 anos e já chega correndo ao local – usando a camisa do time da escola, caneleiras e meião.

Durante o aquecimento, se a bola sai pela lateral é Jade quem corre atrás. Atenta às instruções do treinador, a pequena jogadora bate o pé ao saber que ficará de fora nos primeiros minutos do coletivo. O professor acha graça. Não demora muito, Jade entra em quadra. Ajuda na defesa, volta para o ataque e… gol.

A agilidade é a principal característica de Jade. Com 1,41 m, ela compensa a pouca estatura com muita rapidez. "Ela é guerreira, não desiste fácil da bola e tem um bom chute", avalia o professor Paulo Castro. A mãe, Claudia, conta que a filha praticou antes natação e ginástica olímpica. "Mas foi no futebol que ela se encontrou. Por isso, dou todo o apoio. Ela tem muito talento", diz.

Torcedora do Palmeiras, a menina acompanha os jogos do time pela TV, mas gosta mesmo é de ver os jogadores no estádio, ao lado do pai. Em dezembro passado, viveu um dia inesquecível ao entrar no gramado de mão com Edmundo, como "mascote".

Além da camisa do Palmeiras, ela guarda com carinho as do clube espanhol Barcelona e da seleção de Portugal. O meia chileno (e palmeirense) Valdivia é seu ídolo. "Porque ele faz bastante gol e tem um drible muito rápido", explica.

Febre na escola
O apoio em casa foi o que levou a estudante Julia Sayeg Tranchesi, 17 anos (foto), a praticar futebol. "Cresci ouvindo meu pai dizer que eu era boa de bola". Ela então começou a treinar no Clube Pinheiros, zona sul de São Paulo, e nos intervalos das aulas. "A gente negociava a quadra com os meninos", lembra.

No colégio, Julia treina para um campeonato misto que reúne 26 times, sendo dez de meninas e um de professoras e funcionárias. A estudante, que deixou de se matricular no cursinho pré-vestibular para não atrapalhar os treinos, é um dos destaques da equipe "Señoritas" e se define como meia. "O professor gosta de me colocar como volante, mas a posição de meia é mais movimentada: vai pro ataque, volta para a zaga, corre para todos os lados, crias jogadas", explica.

"Ela tem facilidade para armar as jogadas, domina os passes e ainda tem um bom chute", avalia o professor Kazuo Shiramizo.

Convidada para jogar com a turma do Clube Pinheiros em um torneio que reúne anualmente meninas de vários países na Disney, nos EUA, Julia preferiu ficar para uma competição intercolegial em Teresópolis, no Rio de Janeiro. "Não quis deixar minhas amigas da escola. Já estamos acostumadas a jogar juntas".

O futebol de quadra será assunto na escola pelo menos até outubro, quando termina o campeonato batizado de Fufei (Futebol e Feijoada). A agitação em torno dos jogos é tanta que este ano o grêmio estudantil da escola criou um álbum exclusivo de figurinhas adesivas, como os vendidos em bancas de jornal. Enquanto alguns meninos aparecem em poses cômicas, as garotas capricharam no visual: batom, brincos, sorrisos. Para quem não estuda mais no colégio, o álbum virou recordação.

O professor Kazuo garante que dá para comparar o jogo das meninas com o dos meninos em qualidade. Responsável pela formação do primeiro time feminino da escola, em 1988, ele diz que a bola não assusta mais as garotas. "O preconceito está acabando. Tem muito menino perna-de-pau", diz. Rodrigo Artacho, 17 anos, jogador do time "Invejáveis" jura que não é um deles e aumenta a torcida do clube das luluzinhas. "Eu gosto de futebol. E se elas jogam melhor, tá valendo".

Chuteira 34- Para a geração anterior à de Julia, o futebol entre meninas não era encarado com tanta naturalidade. A assistente de marketing Maíra Prioli, 26 anos, era a única menina da escola a se interessar por futebol e chegou a perder amigos na infância por causa de sua habilidade. "Fiz a bola passar entre as pernas de um menino. Ele saiu irritado e nunca mais falou comigo."

Maíra diz que joga futebol desde que se entende por gente e que ganhou seu primeiro kitchute, um misto de tênis e chuteira muito usado na década de 80, quando tinha entre 6 e 7 anos. Mas o amor pelo esporte não era coisa de criança.

Quando não está no trabalho, no departamento de marketing de uma editora em São Paulo, a loira de olhos claros tem uma dura rotina de treinamentos como lateral do Mackenzie/São Caetano, eliminado na primeira fase do campeonato paulista de futebol feminino. São três treinos de três horas por semana e mais dois de academia. "Já treinei muito das 23h às 2h", diz Maíra.

A jovem de 1,58 m e "meio" (como gosta de ressaltar) se diverte com os rapazes que se surpreendem com sua paixão pelos gramados. Já perdeu as contas de quantas vezes explicou que as garotas não trocam de camisa depois do jogo e que "matar a bola no peito é questão de jeito".

Maíra só tem um problema quando o assunto é futebol: comprar a chuteira – de número 34. "Não existe hoje no mercado uma chuteira de campo fabricada especialmente para as mulheres. Para complicar, só encontro o meu número na seção infantil".

Ela lamenta a falta de opção, mas conta que já ganhou uma caneleira de um vendedor. Ele a confundira com Milene Domingues, ex-mulher de Ronaldo e ex-recordista mundial de embaixadinhas. "Ele perguntou e eu neguei. Ele duvidou. Aí desisti e perguntei: se eu disser que sou a Milene, eu ganho a caneleira?" Levou.

No vestiário, antes ou depois de entrar em campo, elas conversam sobre tudo. De contusões e arbitragem até TPM. Maíra prende os cabelos e acerta os fios mais rebeldes com spray. Vaidosa, usa esmalte vermelho para esconder unhas roxas e relembra com bom humor a sugestão de um integrante da comissão técnica para domar as madeixas. "Ele pediu para eu usar mousse. Achei estranho. Não ando com mousse dentro da mochila".

E se a torcida quer saber o xingamento que mais irrita uma jogadora de futebol? "Gorda. É a mesma coisa que xingar a mãe ou a irmã no futebol masculino".

Maíra não esconde o otimismo quanto o futuro do futebol feminino no País. "O Brasil conquistou uma torcida incrível no Pan (a final da Seleção contra os EUA bateu o recorde de público do evento, com 70 mil espectadores). É o nosso melhor momento", avalia, desconversando a pergunta sobre uma eventual convocação para a Seleção. "Não penso nisso não. Estou tranqüila. Mas espero sim que aconteça alguma coisa boa para nosso futebol".

Leia também

Edição Digital

Jornal A Gazeta – Edição de 29 de março de 2024

Clique aqui para acessar a edição digital do Jornal...

As Mais Lidas

INSS suspende bloqueio de benefício por falta de prova de vida

O Ministério da Previdência Social decidiu que, até 31...

MDB anuncia nesta sexta pré-candidatura de Sérgio Barbosa a prefeito em Amambai

Vilson Nascimento Um ato do Movimento Democrático Brasileiro (MDB) previsto...

Portuguesa vence Náutico por 2 a 0 diante da torcida

Vitória do time rubro-verde de Mato Grosso do Sul!...

Enquete