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quinta-feira, 28 de março de 2024

Redação do Enem: as lições e dicas de estudantes que conseguiram tirar nota mil

2019-01-27 10:02:00

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Image captionDe mais de 4 milhões de participantes do Enem, só 55 tiveram nota máxima na redação

Entre os cerca de 4,2 milhões de participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2018, só 55 deles receberam nota mil, a pontuação máxima, na redação.

No total, de acordo com o Inep, órgão do Ministério da Educação responsável pelo exame, a média geral na dissertação foi de 522,8 pontos.

Do total de autores que conseguiram a façanha de alcançar a nota mil, 42 são mulheres e 13, homens. A maioria (33) é da região Sudeste, sendo 14 de Minas Gerais e outros 14 do Rio de Janeiro. O Nordeste aparece na sequência com 14 dos melhores textos.

O município com o maior número de representantes entre os destaques é o Rio de Janeiro, com cinco casos, seguido de Fortaleza, com quatro representantes, segundo levantamento divulgado pelo Inep.

De Niterói, Thais Saeger, de 28 anos, foi uma das autoras dos melhores textos de 2018. Formada em Administração pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), ela concluiu o mestrado na área e trabalhava no departamento financeiro de uma empresa de energia do Rio. Pediu demissão e se matriculou em um cursinho no ano passado, disposta a estudar Medicina, depois de ter passado por um grave problema de saúde.

"Estava insatisfeita no meu trabalho, mas é claro que foi difícil abrir mão de um caminho que já tinha. Agora vejo que valeu a pena a dedicação, dá bastante satisfação ver que as coisas estão se ajeitando", conta Thais.

Como ela concluiu o Ensino Médio em 2008, precisou reaprender quase todo o conteúdo no cursinho durante o ano passado. Ficava nas aulas no período da manhã, e à tarde, estudava em casa. Deu uma atenção especial à redação, e fazia pelo menos um texto por semana. Às vezes, chegava a produzir três. Em 2018, fez sua estreia no Enem.

"Redação não é dom, é técnica. É preciso entender o que é uma dissertação argumentativa [modelo exigido pelo Enem]. Tem gente que fala que não escreve bem, mas é desenvolver uma técnica, acho que todo mundo tem condições de fazer uma boa redação."

Sobre o tema cobrado – "Manipulação do comportamento do usuário pelo controle de dados na internet" -, Thais diz que achou atual, embora estivesse fora do que ela esperava. "É complicado falar de algoritmo já que tem regiões do Brasil que nem têm acesso à internet. Neste aspecto achei um pouco injusto, mas é um tema atual."

No total, Thais ficou com 784 pontos de média no Enem. Como a UFRJ dará peso maior para a redação, por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Thais acredita que vá conseguir a vaga em Medicina.

"Sabia que era boa em redação, mas não achei que seria nota mil. Quando vi a nota na tela do computador, cheguei a levar um susto."

Cearenses se destacaram

Na cidade de Santa Quitéria, a 200 quilômetros de Fortaleza, Ívina Ribeiro Araujo, de 21 anos, também está no seleto grupo de autoras nota mil. Ela concluiu o Ensino Médio há quatro anos e há três, faz cursinho no Colégio Farias Brito.

Escrever nunca foi um desafio para a aluna que ama ler e arrisca as primeiras letras desde os 4 anos. Em 2018, fez sua sexta participação no Enem. Há cinco anos, em 2014, chegou a tirar 980 na redação. Nesta edição apostava em temas para a redação ligados à tecnologia, e apesar disso, se surpreendeu ao se deparar com a nota mil.

"Nesses anos todos treinei bastante e construí um modelo de redação para mim. Foquei em estudar as temáticas que poderia cair para otimizar o tempo, pesquisava muito sobre os temas possíveis na internet e na biblioteca. Mas não esperava essa nota, foi uma surpresa", conta Ívina.

Essa também foi a tática de Melissa Fiuza Saboya, de 17 anos, moradora de Fortaleza. Ela fazia uma ou duas redações por semana no primeiro semestre, mas no segundo partiu para um intensivo e aumentou a produção para três ou quatro textos.

"Montava um esqueleto e usava a mesma técnica para todos nos temas. No fim, treinava mais os temas, e não o modelo", diz Melissa que também está na disputa por uma vaga em Medicina.

Para Melissa, a grande lição para chegar à pontuação máxima é o treino. "É preciso escrever e treinar com técnica, corrigir os erros, refazer e ir melhorando como se fosse uma escada, em que você vai subindo os degraus."

Outra dica da cearense é investir tempo no estudo de Filosofia. Ela deixou para estudar a disciplina no segundo semestre do ano para chegar à prova com o conteúdo mais fresco. Assim, conseguiu, por exemplo, usar no seu texto citações do filósofo Immanuel Kant.

"Mas é preciso estudar Filosofia no segundo semestre. Se começa muito antes, chega na hora do Enem você não lembra e fica sem repertório." Melissa teve média geral de 773 pontos e tentará uma vaga em medicina em alguma universidade do Ceará por meio do Sisu.

Aluna usou 'Black Mirror' no texto

Por falar em repertório, para desenvolver o texto, Ívina aproveitou "Black Mirror", série de contos de ficção científica relacionados à tecnologia exibida pela Netflix.

"A série fala sobre como a tecnologia pode afetar positiva e negativamente a vida das pessoas. No texto, abordei um episódio em que as pessoas usavam a tecnologia para passar a impressão de serem algo que elas não eram. Dessa forma, as pessoas não têm pensamento próprio."

Ívina procura sempre relacionar os conteúdos aprendidos no cursinho com seu dia a dia – como nas séries a que assiste ou nos livros que lê. Ela acredita que essa estratégia a ajudou a ter mais repertório para formular a dissertação.

Com média de 766 pontos nas demais provas do Enem – uma pontuação bem maior que a de anos anteriores – , ela também espera conseguir uma vaga no curso de Medicina em uma universidade pública por meio do Sisu, cuja inscrições começaram nesta terça-feira.

"Minha família é toda da área da saúde. Tenho um tio que está concluindo Medicina, tenho uma irmã enfermeira e outra dentista. Minha mãe trabalha como agente de saúde. Estou animada e com esperança de conseguir a vaga neste ano."

Nota zero

No contraponto dos textos que tiveram destaque, 112.559 receberam nota zero no Enem 2018. Em 2017, o número foi ainda maior: 309.157. Os principais motivos, de acordo com o Inep, foram redações em branco (1,12%), fuga ao tema (0,77%) e cópia do texto motivador (0,36%).

Sisu está com as inscrições abertas

Quem fez o Enem no ano passado e não zerou na redação pode disputar uma vaga no ensino superior público por meio do Sisu. As inscrições do primeiro processo seletivo de 2019 estão abertas e vão até esta sexta-feira (25).

São 235.476 vagas em 129 instituições públicas de ensino superior federais e estaduais de todo o país. As inscrições deverão ser feitas pelo site do Sisu, com número de inscrição do Enem e senha.

O resultado da chamada regular sai no dia 28 de janeiro. Quem não foi convocado em nenhuma das duas opções pode manifestar interesse em aderir à lista de espera.

 

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