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sábado, 20 de abril de 2024

Desenvolvimento industrial começa a se refletir na região

2008-04-09 10:25:00

 
Suzana Machado

A pecuária e a agricultura não deixaram de ser o forte da economia do Estado, mas nos últimos anos Mato Grosso do Sul tem se preocupado em desenvolver seu setor industrial, seguindo exemplos de outros Estados.

Os investimentos maiores estão por conta das usinas de cana-de-açúcar que cada vez mais se instalam por aqui, a maioria oriundas de São Paulo e Paraná.

O Estado, que tem uma das taxas de energia elétrica mais caras do país, tem se preocupado em oferecer incentivos fiscais para que grandes empresas optem por investir na região, principalmente no caso das indústrias sucroalcooleiras.

De acordo com informações da Seprotur (Secretaria de Desenvolvimento Agrário, da Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo), que possui o Programa de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro, a meta é atingir na safra, até 2012, cerca de 700.000 ha de área plantada de cana-de-açúcar, chegando a uma produção estimada de 51.000.000 t. Para isso, o Estado pretende investir na melhoria de estradas, em hidrovias, oferecendo estrutura para que as indústrias possam escoar sua produção com maior facilidade.

Para os municípios do interior, a localização próxima às cidades-pólo acaba se tornando um ponto favorável, como é o caso de Caarapó, município que já comporta várias indústrias.

De acordo com Zélia Rodrigues Borges, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico de Amambai, as grandes empresas dão preferência para esses municípios, devido à questão logística, ou seja, estradas pavimentadas, proximidade de uma cidade como Dourados, por exemplo. “É natural que esses municípios acabem recebendo os resultados desse desenvolvimento antes que outros.”

Segundo Zélia, compara-se muito Amambai com Caarapó, com relação ao setor sucroalcooleiro. “As pessoas não vêem que a situação é diferente. No caso de Caarapó, uma grande propriedade [Campanário] resolveu parar de mexer com pecuária e investir na cana-de-açúcar, ou seja, um único empresário conseguiu agilizar o processo de implantação muito rápido, devido à estrutura que a própria fazenda já oferecia aos usineiros.”

Em Amambai, o caso é diferente. Foi necessário fazer um levantamento geral do município em todas as áreas, buscar produtores que tivessem interesse no plantio da cana e uma propriedade que comportasse a usina e atendesse às exigências da mesma.

“A usina será instalada na Fazenda Três Barras, que fica cerca de 35 km do perímetro urbano. A produção de cana deverá atingir, no máximo, um raio de 30 km em volta da indústria. Essa distância é determinada por questões de viabilidade de transporte da matéria-prima para a usina”, explica Zélia.

Ter uma produção relevante da planta é o ponto de partida para a instalação da usina. Segundo Zélia, em breve os produtores já iniciarão o plantio da cana. “Está prevista, para o segundo semestre deste ano, a instalação do escritório da empresa no município. Iniciando o plantio da cana este ano, a planta estará pronta para a colheita na mesma época em que a usina já estará em pleno funcionamento.”

Diretamente espera-se que a instalação da usina gere cerca de 1.400 empregos. “A expectativa é de que a partir do ano que vem o município já sinta os efeitos da vinda da usina. Alguns comerciantes e empresários já começaram a investir na cidade. Teremos um novo prédio residencial aqui.”

O corte da cana será mecanizado, acabando com o trabalho do “bóia-fria”, questão que levanta muitos debates devido às condições que esse tipo de serviço expõe aos trabalhadores.

Segundo Zélia, existe outro projeto de uma nova usina do Grupo Santafé, do Paraná, que provavelmente será instalada próximo à Fazenda Cascata, na região da Escola Agrotécnica. “Estamos em contato com os empresários, que farão uma nova visita ao município daqui a uns dias. Essa é de porte pequeno, diferente da Santa Isabel, que é uma usina paulista de grande porte, que terá uma área de abrangência de 30 mil hectares. Temos a Frangosul que também pretende investir no setor de aviários no município.”

Desenvolvimento de outros segmentos – O desenvolvimento nos municípios é baseado a nível estadual. Determinados fatores que impedem o desenvolvimento são gerados devido a questões referentes ao Estado, como o valor da taxa de energia elétrica e a capacitação da mão-de-obra.

“O empresário vai optar por investir no estado onde ele encontra mais benefícios, mais incentivos, mais apoio”, diz Zélia.

Estados como São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul possuem uma cultura diferente; as pessoas já nascem em meio a um sistema de trabalho diferenciado. “Mato Grosso do Sul é um Estado ainda novo, as pessoas têm uma cultura de trabalho diferente. E essa concepção tem que mudar para que o Estado obtenha mais êxito nesse processo de desenvolvimento”, diz Zélia.

De 2006 para 2007, o município de Amambai teve um crescimento na arrecadação de imposto de 3,28%. “Mesmo em meio à crise de duas safras, Amambai conseguiu manter um índice de crescimento. Tivemos um aumento de 24,85% do FPM, recursos que vêm para o município de acordo com seu desenvolvimento.”

Um setor que movimenta, há cerca de 14 anos, o Paraná, são as facções; empresas que prestam serviços para indústrias que trabalham com o jeans, em sua maioria instaladas no estado de São Paulo.

No ramo de facções há 12 anos e com uma empresa instalada em Xambrê/PR, o empresário Egídio Monte Rebech veio para Amambai em busca de mão-de-obra.

A Facção Amambai Costura está em funcionamento há pouco mais de um mês e emprega 27 funcionários. “No Paraná nós já estamos sentindo a falta da mão-de-obra, motivo pelo qual viemos para Amambai”, diz Egídio.

De acordo com o empresário, os incentivos são maiores no Paraná, como taxa de energia mais baixa e valores de impostos, mas a mão-de-obra está escassa devido ao alto número de facções e indústrias na região. “Xambrê é uma cidade de 2.500 habitantes, possui 4 facções, uma indústria da Zaeli, laticínio, indústria de derivados de eucalipto, tem uma usina grande, então não sobra pessoas para trabalhar; o setor absorve tudo.”

Diferença sentida aqui em Mato Grosso do Sul. Egídio ministrou curso de capacitação em julho de 2007, e recebeu cerca de 200 currículos para 40 vagas. Outra disparidade notada pelo empresário é com relação ao ritmo de trabalho dos funcionários daqui com os de lá. “Até mesmo por uma questão cultural, as pessoas não estão habituadas ao ritmo de trabalho industrial, que exige muita dedicação e rigidez com relação a horários, porque disso depende a entrega das mercadorias: casar quantidade com qualidade, e isso não é fácil, mas eles estão se adaptando.”

Neste primeiro mês a facção produziu 4 mil peças. “Trabalhamos com prestação de serviço; a roupa vem cortada, efetuamos a costura e mandamos de volta para as fábricas de São Paulo. A pretensão é chegar a 10 mil peças por mês até o meio do ano.”

Os salários variam de acordo com a produção. “Esperamos chegar ao piso salarial que é de R$ 457,00 quando a produção atingir 8 mil peças. No primeiro mês o pagamento chegou próximo ao salário mínimo.”

O empresário teve o prédio e as máquinas cedidas pelo município. “Acredito que se continuarem a apoiar os empresários, mais faccionistas virão para Amambai, mas para isso há a necessidade de capacitação da mão-de-obra, que também é um grande atrativo para nós.”

Para Lúcia de Matos Cortes, funcionária da facção, a vinda de empresas como essas são de suma importância para o município. “Estava desempregada há um ano, fiz o curso que o Egídio ministrou e estou trabalhando aqui. O ritmo de trabalho exige; existem regras, mas a adaptação é rápida. Amambai precisa de mais empresas como essa para combater o desemprego.”

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