2015-05-29 15:15:00
O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, comentou nesta sexta-feira (29) o recuo da economia brasileira no primeiro trimestre de 2015, em almoço na Firjan, após a divulgação de dados do IBGE. A queda do PIB foi de 0,2%, puxada pelo desempenho negativo do setor de serviços e da indústria, bem como das famílias e dos investimentos.
Levy creditou a queda à "incerteza" sobre a economia brasileira no final do ano passado e no início de 2015, citando os problemas de abastecimento de energia e de água, por exemplo.
"Muita gente tinha dúvida sobre a economia brasileira, o rumo que ia tomar. Muita coisa mudou desde o começo do ano. Vencemos estes desafios imediatos. O primeiro trimestre é reflexo de uma dinâmica que a gente está trabalhando para mudar", disse Levy.
Segundo ele, o segundo trimestre será de transição. Ainda assim, ele aposta em "sinais diferentes" dos indicadores econômicos.
Para Levy, é preciso que o país tome medidas contundentes para mudar o quadro.
“Nós temos visto o desemprego aumentar um pouco e nós temos que, portanto, tomar ações enérgicas para evitar que a economia possa entrar em algum processo mais extenso de recessão, nós não queremos isso, muito pelo contrário. Nós temos que focar todas as nossas ações, nossa energia para voltarmos a crescer, para criamos empregos, e é por isso que o governo tem tido tanto compromisso em passar, em vencer essas medidas legislativas associadas ao ajuste fiscal para podermos tratar de uma agenda, que é uma agenda de crescimento.”
Pouco antes do almoço, em comemoração ao Dia da Indústria, o presidente da Firjan, Eduardo Eugênio Gouvea Vieira, citou a "tarefa hercúlea de equilibrar as contas públicas" e disse que a simplificação do sistema tributário é uma bandeira da federação.
Em nota, a Firjan comentou a retração da economia. "A composição do PIB mostrou fraqueza disseminada, com resultados negativos para as famílias, para o governo e para a indústria", diz um trecho. Em outro, o documento defende a mudança da postura fiscal, priorizando a diminuição dos gastos públicos de natureza corrente e a implementação de regras explícitas que limitem o seu crescimento ao longo dos próximos anos.
Queda de 0,2%
A economia brasileira registrou queda de 0,2% no primeiro trimestre de 2015, puxada pelo desempenho negativo do setor de serviços e da indústria, bem pelo recuo do consumo das famílias e dos investimentos. Neste início de ano, o que evitou um tombo ainda maior do PIB foi a agropecuária.
Em valores correntes (em reais), a soma dos bens e serviços produzidos no período chegou a R$ 1,408 trilhão.
Frente aos três primeiros meses do ano passado, a queda foi ainda maior, de 1,6%, com destaque para a primeira queda do consumo das famílias desde o terceiro trimestre de 2003.
O PIB acumulado em quatro trimestres até março registrou queda de 0,9%, a maior desde o terceiro trimestre de 2009, quando o recuo foi de 1,3%.
Desempenho de cada setor
Pelo lado da produção, o resultado negativo nos primeiros três meses deste ano foi puxado pela queda de 0,7% no setor de serviços, que representa mais de 60% do PIB brasileiro. Seguindo o mesmo comportamento, a indústria também recuou em relação aos três últimos meses de 2014, mas em um ritmo menor, de 0,3%. Na agropecuária, a alta foi de 4,7%.
“Na parte negativa [pela ótica da produção], está a produção e distribuição de eletricidade, gás e água, já que estamos tendo redução no consumo de água e, além disso, estamos, desde o segundo trimestre do ano passado, usando muito mais as térmicas do que vínhamos usando antes, e isso afeta negativamente também”, disse Rebeca de La Rocque Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE.
O consumo das famílias, também usado no cálculo do PIB, pela ótica da demanda, caiu 1,5% – a maior retração desde o último trimestre de 2008, quando a baixa foi de 2,1%.
Os investimentos e os gastos do governo mostraram queda de 1,3% (ambos). No setor externo, os resultados foram positivos. Enquanto as importações cresceram 1,2%, as exportações tiveram expansão de 5,7%.
Retrato de 2014
Na comparação com o mesmo período do ano passado, a queda do PIB foi ainda maior, de 1,6%. A maioria dos setores teve resultados mais negativos que os vistos na comparação com o quarto trimestre de 2014.
Enquanto os serviços recuaram 1,2%, puxados pela forte queda no comércio, a indústria encolheu 3%, influenciada pela diminuição da produção de veículos no país. Apenas a agropecuária registrou resultado positivo, de 4%, com avanço de culturas como de soja e arroz.
"A queda de 7% na indústria de transformação foi a que mais puxou a indústria para baixo. E olhando por dentro da indústria de transformação, toda a indústria automotiva teve queda nesse trimestre, desde a parte dos automóveis. A gente teve suspensão dos incentivos fiscais, a própria renda comprometida das famílias. A própria parte da indústria pesada, caminhão, que é considerada investimento, afeta diretamente a taxa negativa dos investimentos… também teve queda, influenciado por aumento de juros, o crédito nesse setor", afirmou Rebeca.
Pela ótica da demanda, o destaque ficou com o consumo das famílias, que, ao recuar 0,9%, registrou a primeira queda desde o terceiro trimestre de 2003 nessa base de comparação.
O desempenho é explicado pela "evolução negativa dos indicadores de inflação, crédito, emprego e renda ao longo dos três primeiros meses do ano", de acordo com o IBGE.
“A gente teve aumento de juros. A Selic [juros básicos da economia] alcançou 12,2% ao ano no primeiro trimestre de 2015, contra 10,4% ao ano no primeiro trimestre de 2014. E o IPCA [a inflação oficial], quando a gente faz a comparação do primeiro trimestre de 2015 contra o mesmo período do ano anterior, também teve aceleração. E isso tudo prejudicou o consumo das famílias”, disse a coordenadora.